Notícias

Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 07/05/2021 - Notícias

Peter Fischer: sem perder o humor jamais

Em dezembro de 2016, o professor abriu as portas de sua casa e contou um pouco de sua história ao Jornal do Professor. Releia a homenagem!

Peter Fischer: sem perder o humor jamais

“Eu sou tipo pequi: ou as pessoas amam ou elas detestam”. Como de costume, Peter Fischer usa humor e sarcasmo ao tentar se definir. As emoções se afloraram ao relembrar quando, aos cinco anos de idade, carregava uma estrela de Davi estampada no peito da camisa. A mãe lhe deu forças para enfrentar o preconceito e o ensinou a ter orgulho de si. E assim fez Peter. Húngaro, filho de judeus, casado com uma brasileira judia, ele chegou ao Brasil em 1959 acompanhado dos pais, após perder o restante da família durante a Segunda Guerra Mundial. Trabalhando desde os 14 anos de idade no Rio Grande do Sul, a graduação foi escolhida devido às dificuldades com as provas de português – rastro das dificuldades de um estrangeiro que tenta aprender uma nova língua. Com o diploma de médico veterinário em mãos, não foi difícil encontrar emprego em Goiás em 1964. Foi quando Fischer ingressou na UFG e na Secretaria da Agricultura do Estado. Desde então, ele vive no Cerrado e é apaixonado por Goiás.

A caminhada continua

Aos 80 anos e aposentado, hoje Peter luta para transformar em saudade o vazio deixado pela perda da esposa, Marlene Fischer, com quem viveu durante 56 anos. Por isso, ele, a filha, o neto e o genro revezam o local das refeições: o almoço é na casa deles e o jantar na casa de Peter. “Deveria ser fácil responder essa pergunta, né?”, perguntou sobre o que é mais importante para ele. Alguns segundos de reflexão depois: “Acho que a universidade foi a parte mais importante da minha vida”. Mesmo aposentado, Peter não deixou de lado as atividades universitárias. Quando a Adufg foi criada e ainda era uma associação, o professor já era atuante. Hoje, ele ainda faz parte do sindicato, onde ocupa o cargo de diretor para Assuntos de Aposentados e Pensionistas. Nas redes sociais, Fischer encontrou espaço para continuar crítico à esquerda brasileira e discorrer sobre política. Nesse cenário brasileiro conturbado, ele acredita que a esperança do povo brasileiro está chegando ao fim. “Quando há uma perda de confiança nas estruturas democráticas, pode aparecer alguém e dizer que é o salvador da pátria. Isso é perigoso, pois assim podemos caminhar para outros 20 anos de ditadura”, analisa preocupado.

Amadurecimento e história

Em sua atual rotina, ele se esforça para utilizar todos os cômodos da casa – que ficou grande para uma só pessoa. Em visita ao quartinho dos fundos, onde ainda mantém antigas ferramentas, Peter relembra os trabalhos manuais que costumava fazer. A cerca e os portões de ferro da casa, por exemplo, foram feitos por ele antes de um problema de saúde que comprometeria parciamente seus movimentos. Assim como os trabalhos manuais com ferro, a fotografia foi paixão de Peter por muitos anos e também teve que ser abandonada. Uma de suas primeiras câmeras era de seu pai e, até hoje, todas as máquinas estão cuidadosamente guardadas em seu escritório. Democrata convicto, ele defende, acima de tudo, os direitos dos indivíduos. “Antes de mais nada, o que mais deve ser respeitado em uma sociedade é o indivíduo. Eu sempre lutei para que o indivíduo fosse respeitado. Em alguns pontos eu consegui, em outros não”, explica.

Memórias

Para registrar algumas histórias e vivências, em 1997 Peter publicou o livro Memórias de um veterinário no Cerrado. Ele afirma que, quando jovem, “a todo momento desejava mostrar meus conhecimentos, que acreditava serem muitos e extremamente úteis. Nada como o tempo para ver o papel de tolo daquele que acredita que sabe tudo”. O Peter de hoje é mais humilde que o jovem veterinário patologista, apesar de não ter pedido o gosto pelo debate de ideias. Raramente a tristeza transparece em seu rosto, geralmente iluminado por um largo riso de quem sempre faz piadas. Depois de percorrer longos caminhos e buscar sempre aprender, ele ri de si mesmo, das ingenuidades e do excesso de confiança de algumas pessoas.

JORNAL DO PROFESSOR – ANO III – Nº 35 – DEZEMBRO DE 2016