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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 13/05/2020 - Jornal do Professor

Uma carreira semeando o futuro

Professor Lázaro José Chaves criou o primeiro doutorado da UFG e participou ativamente para a expansão da pós-graduação na universidade

O professor Lázaro José Chaves, da Escola de Agronomia da UFG, traz no seu jeito, na sua fala e nas suas maneiras a humildade que aprendeu de casa, na zona rural de Bambuí (MG). Mais novo de nove irmãos, é filho de agricultores familiares que nunca tiveram a chance de frequentar uma escola. Seus irmãos mais velhos foram alfabetizados na zona rural, mas o ciclo foi rompido por um irmão mais velho que foi estudar na cidade. De casa até a escola eram 12 km a serem cobertos a pé ou a cavalo. Aberto este precedente e com a vontade de ser o mais novo, também foi, continuou estudando para além da alfabetização e ingressou no curso técnico agrícola no colégio agrícola da cidade, hoje um Instituto Federal.

Quando terminou o curso em 1971, já embarcou para Goiás a fim de estudar. Entrou via concurso na Secretaria de Agricultura e passou um ano trabalhando no interior até que pediu para ser transferido para Goiânia por um ótimo motivo: fora aprovado no vestibular de Agronomia da UFG. Trabalhando e estudando, começou o curso na metade de 1972, pouco antes da inauguração do Campus Samambaia, em 1973: “participei da cerimônia praticamente como calouro”, relembra. Na época a Escola de Agronomia e de Veterinária eram juntas e ocupavam uma área que fora herdada do Ministério da Agricultura. Embora não tenha sido uma das unidades fundadoras da universidade, foi uma das primeiras a ser criada, em 1963.

E ficava muito longe da cidade. “Havia casas nas instalações para funcionários. Muitos deles moravam na escola porque o transporte não era simples, pouquíssimos tinham carro particular. Havia um ônibus da própria universidade que trazia funcionários e professores”, relembra. Elas depois foram sendo desativadas e adaptadas para outras finalidades, mas na época existiam basicamente apenas quatro pequenos prédios em que funcionavam todos os departamentos. Lázaro se formou em 1976, mesma época em que o ensino na área de ciências agrárias passava por uma expansão.

“Foi uma ação estratégica do governo que criou a Embrapa e em que foi reforçado o ensino superior nessa área”, explica, “houve a possibilidade de entrada de professores nessa época e eu entrei, recém formado. Sou professor da UFG desde 1977”. Mas não parou quieto por muito tempo: pouco depois de seu ingresso já foi para Piracicaba (SP) onde fez o mestrado na Universidade de São Paulo (USP), regressando para lecionar em sua área, genética e melhoramento de plantas, em 1980. Aproveitando o ensejo do tempo que passou fora já fez todos os créditos do doutorado e voltou para escrever a tese, se tornando doutor em 1985. O trabalho como docente se revelou uma vocação não apenas dele, mas daquele irmão mais velho que também continuou estudando e que é professor até hoje. “Está com 82 anos e continua dando aula!”. Quando se graduou, o natural era que continuasse com o serviço garantido como técnico do Estado, mas a posição de professor falou mais alto. “Era um contrato precário, CLT, via um convênio. E eu preferi! Porque sempre gostei de ensinar”, conta.

Quando trabalhava como técnico no interior, deu aulas de Ciências em escolas e, antes, quando rapaz, dava aulas de reforço. “Acho que eu tinhauma quedazinha...”, brinca. Também havia sua vontade de trabalhar com pesquisa. No Estado “era um serviço ótimo, mas eu queria trabalhar pela disciplina que fui convidado para lecionar. Sempre gostei muito de genética, desde o Ensino Médio e também na universidade, sempre me chamou muito a atenção”. Entre suas principais realizações está a criação do primeiro mestrado da EA, justamente na área de genética. “Nosso programa começou a funcionar em uma condição precária, mas foi muito acertado a gente ter essa coragem”, avalia. Sempre teve paixão pela pós. “O que mais gostei de fazer sempre foi pesquisa e orientação. Aula é sempre muito bom, é o trabalho principal do professor, faço questão de dar aula e faço isso com muito prazer”, explica, mas “dá muita satisfação orientar e ver essa quantidade de orientados ocupando posições importantes em diversos campos. Considero essa acontribuição que mais me realiza. É muito bom ver os ex-alunos tendo sucesso”, revela. Aliás, “meu primeiro orientando no mestrado foi o professor Edward (risos)”, conta, que está no seu terceiro mandato como reitor.

Logo veio uma conquista maior, porém: Lázaro ajudou a criar o primeiro doutorado de toda a UFG, na Agronomia. Foi convidado a ser pró-reitor na gestão do professor Ricardo Freua Bufáiçal entre janeiro de 1990 e janeiro de 1994. “Foi uma experiência muito boa porque conheci a universidade como um todo. Naquela época a universidade tinha oito mestrados. Quando saí, foram criados quatro mestrados e um doutorado. Houve este esforço para tentar incentivar os grupos a criarem programas de pesquisa e pós-graduação”, disse. Um esforço que ao longo dos anos valeu a pena: hoje a EA tem quatro programas de pós-graduação e a UFG tem 65 programas de pós-graduação com 42 doutorados. Foi uma gestão cheia de desafios. “Entramos em janeiro e em março entrou Fernando Collor de Melo. Ele, em uma canetada, extinguiu a Capes”, conta o professor.

Outra conquista da época foi a implementação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) na UFG, uma das primeiras universidades a ter o programa. Ocorreu meio por acaso: em visita ao CNPq, o professor especulou sobre o programa e conheceu a responsável. Ainda era um programa piloto, sem divulgação ou edital, em busca de algumas universidades para testar. “Na hora eu disse: nós queremos”, conta Lázaro, que formou um grupo de improviso da UFG com a antiga UCG, UFMS e UFU para garantir o teste. Foi aprovado e o Pibic começou na UFG com 60 bolsas. “Quando divulgamos o edital, os alunos foram atrás e com o interesse deles, muitos professores se animaram em fazer pesquisa. Foi uma semente importantíssima. Acho que se os mestrados e doutorados cresceram tanto, isso se deve muito ao sucesso e crescimento da iniciação científica”, afirma.Passado tudo isso, Lázaro não planeja se aposentar tão cedo e vê com a mesma humildade suas realizações. “Meu papel foi modesto”, garante, “sempre tivemos um grupo muito unido. Se a escola progrediu muito, foi um esforço coletivo, cada um com a sua contribuição".