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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 16/07/2020 - Jornal do Professor

Aldo Rebelo sobre a Lava Jato: “A História ainda vai cobrar um preço que eles não imaginam”

Ex-ministro fala sobre o atual governo e as expectativas para o futuro

Durante o lançamento virtual do livro Lawfare em debate, promovido pelo Adufg-Sindicato, pela Faculdade de Direito e pela Proifes-Federação, o Jornal do Professor entrevistou Aldo Rebelo, que esteve à frente de diversos ministérios nas gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. No seu currículo, também estão vários mandatos como deputado federal, além de ter sido presidente da Câmara dos Deputados. Durante a divulgação do livro, Rebelo participou de transmissão ao vivo em que debateu a Lava Jato e o Estado de direito no Brasil. Nesta entrevista, questionamos o ex-ministro e ex-deputado sobre isso, sobre a pandemia e o atual governo e o que nos espera em 2022.

Jornal do Professor: Como o senhor avalia a situação do Estado de direito hoje no Brasil? A gente se aproxima de um Estado de exceção?

Aldo Rebelo: Acho que não. Acredito que vivemos o Estado de direito e que não há ameaça ao Estado de direito no Brasil. Acho que a democracia no País suporta bem os solavancos a que está sendo submetida e não corremos nenhum risco. Vejo que há grupos que talvez tenham pesadelos com um go-verno de exceção, mas não há condições políticas para qualquer tipo de aventura que ponha em risco o Estado de direito.

JP: Como o senhor imagi-na o Brasil pós-pandemia?

Aldo Rebelo: O futuro não é muito promissor. Não estamos nos preparando para enfrentar a situação quando o país estiver saindo dessa crise. Não há planejamento, o presidente da República não se preocupa com esta questão. Ele se preocupa em ficar fazendo devaneios ideológicos e discutindo a agenda dos costumes. E o futuro do país não é o horizonte com que ele se importa, muito menos o ministro da Economia, que acha que o mercado vai resolver tudo quando o mercado está dando demonstração de que nessa situação de crise ele não consegue resolver nada. Então, as forças sociais, políticas, econômicas, que têm responsabilidade com o futuro do país, têm que discutir esta agenda sem guardar muita expectativa do que o atual governo possa fazer nesse sentido.

JP: Qual papel os sindicatos e os professores podem exercer neste momento de crise?

Aldo Rebelo: Em primeiro lugar, criticar a orientação do atual ministro da Educação [então Abraham Weintraub, que caiu em data posterior à realização da entrevista].Acho que o Brasil nunca teve um ministro da Educação de nível tão baixo quanto o que nós temos hoje. Quando fui presidente da UNE, os ministros da Educação eram pessoas de nível, você podia criticar o regime, a política educacional do governo, mas não podia deixar de reconhecer que pessoas como o Eduardo Portella, era um homem com atributos para exercer o cargo, o mesmo era a Esther de Figueiredo Ferraz, educadora respeitada. Mesmo o general Rubem Ludwig tinha uma postura muito diferente do atual ministro. É possível tecer uma crítica quanto ao comportamento desse ministro, defender a educação, ensino e pesquisa neste país, que vivem ameaçadas pela agenda desse governo e incorporar as energias de um movimento sindical com as energias de todos aqueles que defendem um Brasil que retome o desenvolvimento, reduza as desigualdades e defenda a democracia.

JP: O tema do livro que foi lançado é o lawfare e o caso mais emblemático no Brasil é a operação Lava Jato. O senhor fez parte dos governos petistas e viu os ataques da mídia de perto. Como o senhor vê a operação hoje?

Aldo Rebelo: A Lava Jato foi uma grande operação política que teve como base fatos infelizmente verdadeiros, que foram os casos de corrupção, mas tornou-se uma grande operação, em primeiro lugar, contra a política em geral, contra a democracia e as instituições. Em segundo lugar, para alcançar certas lideranças no país, principalmente o presidente Lula. Com processos construídos... Vivo há 40 anos em São Paulo, conheço de perto a realidade de São Paulo e todo mundo sempre soube que aquele sítio não pertence ao presidente Lula. Foi uma coisa criminosa. A História ainda vai cobrar caro dos responsáveis por estes processos, um preço que eles não imaginam. Está aí o juiz Sergio Moro, que fez tudo isso para virar ministro da Justiça do atual governo e depois ser exposto a uma situação como a que vive atualmente. Foi uma operação política, isto estava evidente para todo mundo, mas reuniu forças sociais, econômicas, da mídia, de parte importante do empresariado, da classe média, de apoio, cujo resultado é uma tragédia para o país.

JP: E onde entra o atual presidente nisso tudo?

Aldo Rebelo: O atual presidente da República é uma personagem menor dessa tragédia. Ele é criatura e não criador. Os que criaram esta situação estão aí: este juiz que virou ministro, parte da mídia e setores do empresariado e partidos políticos que articularam toda essa operação para destruir a liderança do ex-presidente Lula. Foi isso o que aconteceu.

JP: Acredita que, em 2022, conseguiremos formar alguma chapa oposição significativa?

Aldo Rebelo: O governo passa por um processo de desgaste crescente. Em 2022 ninguém sabe bem o que vai restar de reputação, de autoridade, do atual governo. A oposição tem que olhar por cima. Não pode olhar para o casco do navio, tem que se olhar para a linha do horizonte durante a tempestade. Tem que procurar oferecer ao país um programa de ampla união de forças, em torno de objetivos generosos, de unificação para o país voltar a crescer, reduzir desigualdades. Esta é a tare-fa da oposição e não alimentar a agenda do governo de dividir o país entre direita/esquerda, norte/sul, preto/branco. A oposição não pode embarcar nessas ideias do governo, precisa tomar rumo. Parte dela acha que pode havero impeachment amanhã, outra parte acha que ter golpe. É preciso se decidir: ou o governo tá forte ao ponto de ame-açar um golpe ou está fraco a pontode sofrer um impeachment, não tem como ser as duas coisas. A oposição precisa se orientar.