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Autor: José Abrão

Publicado em 16/07/2020 - Jornal do Professor

Uma carreira que estava no destino

Vinda de uma família de professores, a professora Claci Rosso até tentou trilhar outro caminho, mas a paixão pela docência foi mais forte

A atual diretora da Faculdade de Enfermagem (FEN), professora Claci Fátima Weirich Rosso, é docente da UFG há 23 anos e já havia iniciado sua carreira nas salas de aula antes disso. Só que este não era o plano: o objetivo original era não ser professora. “Minha família tem muitos professores. Eu sempre disse que eu não queria ser professora”, relembra. Tentou outras profissões. Primeiro, fez vestibular para Ciências Biológicas e começou o curso, mas percebeu que naturalmente ia cair na sala de aula. Então foi pra Enfermagem para ser uma profissional liberal, atuar em estabelecimentos de saúde. “Mas às vezes a gente não escapa do destino: a docência estava no meu caminho. Não que eu não gostasse dela, mas achava que era uma profissão com muitos desafios”, conta.

Ela acompanhava as histórias da família. Via a luta. Via as dificuldades, o pouco reconhecimento. Mas com o destino não se briga. Nascida no Rio Grande do Sul, mas criada em Cascavel (PR), Claci se graduou como enfermeira na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, mesma instituição em que começou a lecionar primeiro como substituta, depois como efetiva por cinco anos antes de se mudar para Goiás, em 1997. Veio para cá com toda a família: o marido agrônomo que tinha negócios na região e mais três filhas. “Já estou goiana totalmente. Gosto muito daqui. Acho a região Centro-Oeste uma região progressista que abre muitas portas e que tem mais perspectivas de crescimento no país”, conta, e afirma, inclusive, que ama o calor.

“Agradeço muito ao Estado de Goiás e à UFG, pois tive muitas oportunidades de crescer profissionalmente aqui, de desenvolver trabalhos importantes”. Ainda no Paraná já começou a atuar na área da saúde pública e como sanitarista. Então veio o convite para a docência e por um tempo os dois caminhos seguiram lado a lado. “Fui ser docente e comecei a me apaixonar cada vez mais. Vi que tinha aptidão, que tinha uma boa relação com os alunos”. Em Goiânia ela chegou e assumiu como substituta antes de passar no concurso em 1998. “Estudei muito para passar nesse concurso, e assumi imediatamente a vaga na área da saúde pública. Na época não era pedido formação em nível de mestrado. Então fiz mestrado e doutorado já como professora”, lembra.

O mestrado foi em Medicina Tropical, feito no Instituto de Pa-tologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), e o doutorado veio logo em seguida em Ciências da Saúde, feito na Universidade de Brasília (UnB). A docente conta que foi muito bom fazer a pós-graduação “fora de casa”, porque “ampliou muito meu horizonte na área da saúde. Convivi com profissionais de todas as áreas. Eram discussões multidisciplinares, interdisciplinares, que me deu a possibilidade de realmente conhecer e pensar em propostas que fossem mais coletivas e que tinham muito a ver com o que eu já fazia dentro da minha profissão”.

E tanto mestrado quanto doutorado foram feitos sem licen-ça e com três filhas em casa. “Foi bastante desafiador. Mas quando a gente é mais jovem a gente tem mais energia, a gente aceita melhor os desafios. São muito motivadores”. Ela admite que conciliar tudo foi um pouco estressante, mas nada que “me fizesse pensar que era muito pra mim, que estava muito cansada, que não ia conseguir. Pelo contrário”.

Docente e pós-graduada, embarcou na pesquisa, principal-mente de base populacional. Foi quando teve o primeiro gosto da gestão, ao assumir a coordenação da pós-graduação em saúde coletiva, então o primeiro mestrado nes-sa área na região Centro-Oeste. Foi vice-coordenadora por dois anos e coordenadora mais dois anos. Quando isso passou, foi convida-da pelo professor Orlando Amaral para assumir como próreitora adjunta de Extensão e Cultura. Somado aos anos posteriores na diretoria da FEN, são praticamen-te 12 anos seguidos como gestora em alguma capacidade.

Fazer parte da reitoria “foi maravilhoso, foi uma experiência que eu gostei muito. Sempre falo para os colegas: enquanto estamos apenas na unidade acadêmica, nós não temos noção do que é a universidade”, conta, “quando você vai pra gestão superior, você amplia seus horizontes, você começa a conhecer o que é esse universo. As discussões, as diferentes áreas, as dificuldades, a força que a universidade tem. Foram anos de grande aprendizagem”.

Embora tenha tentado conciliar tudo sempre, ela conta que acaba tendo que abrir mão um pouquinho às vezes. “Na diretoria eu me afastei do ensino, mas não totalmente, continuo como professora da pós-graduação com orientandos de mestrado e de doutorado. Até o ano passado eu ainda tinha carga horária na graduação”, afirma, mas que “se eu tiver que escolher, digo que minha grande paixão é a graduação. Não que não tenha paixão pela pós-graduação, professor gosta desses desafios. Eu me sinto muito motivada quando os alunos estão chegando, que você está formando um profissional e eles chegam muito abertos para as novidades”.

Como diretora, ela afirma estar se dedicando mais para a renovação e ampliação da infra-estrutura da faculdade além de desenvolver e conduzir grandes projetos de pesquisa, como o Tenda de Triagem do Covid-19 UFG. “Estou na coordenação desse projeto que envolve ensino, pesquisa e extensão. Ele é financiado pelo MEC. Ele atende os trabalhadores de saúde e de segurança pública que estão sintomáticos. Temos entre eles muitos professores e estu-dantes nossos”.

Por ora “eu só quero terminar bem a minha gestão, que termina em janeiro de 2022. Tudo o que eu faço eu quero fazer o meu melhor”, planeja, “poder terminar a gestão dizendo que me dediquei integralmente e que fiz o melhor pela FEN é o que eu preciso fazer agora”.