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Autor: Ascom Adufg-Sindicato
Publicado em 02/06/2025 - Notícias
Adufg-Sindicato comemora os 99 anos de vida da professora Maria Lucy Veiga Teixeira, uma das fundadoras do Conservatório de Música da UFG, atual EMAC

A diretoria do Adufg-Sindicato vem, por meio desta, parabenizar a professora Maria Lucy Veiga Teixeira, docente aposentada da Universidade Federal de Goiás, pelos seus 99 anos de vida. Nascida em Cidade de Goiás, em 1926, sua trajetória pessoal e profissional foi essencial para o papel da música e da educação superior no estado, sendo integrante da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás e da Academia Nacional de Música do Rio de Janeiro.
Desde criança, teve um contato próximo com a música, algo que ela herdou da família. “Meu pai tocava em orquestras responsáveis pela trilha sonora de filmes mudos exibidos nos cinemas”, diz. Ocupando a posição de violinista, o pai realizava o ensaio da orquestra dentro de sua casa, por possuir um piano, que ainda se encontra sob a posse da filha. “Este foi um dos primeiros pianos a chegarem no estado”, ela lembra, com clareza, das histórias que lhes foram passadas.
Aos 4 anos de idade, começou a estudar piano no Colégio Sant’Ana, inaugurado na cidade de Goiás em 1889, onde funcionou ininterruptamente por 126 anos, fechando as portas em 2015. Com o aprendizado, passou a tocar e cantar com o pai. 14 anos depois, em 1945, ela se casou com um promotor da Justiça Militar e se mudou para Goiânia, onde continuou sua jornada musical com o auxílio de Belkiss Spenciere Carneiro de Mendonça. Ambas, juntamente com o maestro Jean Douliez, Maria Luiza Póvoa Cruz e Dalva Maria Pires, foram co-fundadoras do Conservatório Goiano de Música, que se tornaria a Escola de Música e Artes Cênicas da UFG.
Um dos pontos de virada em sua vida ocorreu em 1952, quando realizou uma especialização em regência e Canto Orfeônico no Rio de Janeiro com o maestro Heitor Villa-Lobos. Experiências posteriores com nomes como Isaac Karabtchevsky, Carlos Alberto Pinto Fonseca e Samuel Baud-Bovy intensificaram a sua paixão de ser regente. “Foi nesse momento que eu decidi deixar o piano, e criei uma devoção para reger corais”, conta. Esta meta a levou a ser um dos membros fundadores do Conservatório Goiano de Música, inaugurado no dia 15 de janeiro de 1956.
Os cinco professores fundadores, de acordo com Maria, sobreviviam das contribuições mensais dos alunos e atuavam como a equipe de limpeza do Conservatório aos finais de semana. Porém, sua profissão lhe providenciava uma sensação tão gratificante que os percalços pouco importavam. “Era como se fosse uma segunda casa para mim”, declara, às lágrimas.
Uma curiosidade interessante é que o Conservatório quase não foi uma das cinco unidades acadêmicas fundadoras da UFG, inaugurada em 1960. “Nós corremos atrás pela integração à universidade, e nos disseram para falar diretamente com o presidente [Juscelino Kubitschek]”, conta Maria. Quando chegaram em Brasília, foram informados que JK estava prestes a embarcar em um voo.
“Felizmente, o avião em que ele estava ainda não tinha decolado. Lembro do assessor dele entrar com o decreto para a integração, e nós cinco ficamos lá na pista, rezando. Mas aí, algum tempo depois, surge o presidente, balançando o papel assinado na nossa direção”, rememora. A partir de então, a entidade passou a ser conhecida como o Conservatório de Música da UFG.
Foi durante este período que Maria criou e dirigiu, por 28 anos, o Coral da Universidade Federal de Goiás. “[O Coral] Foi minha segunda vida, minha segunda família”, conta, emocionada. O grupo era composto não apenas por alunos da UFG, mas também por pessoas das mais variadas vivências. “Tínhamos feirantes como alguns dos nossos integrantes, por exemplo”, recorda. Ela lembra das várias apresentações realizadas; porém, duas se destacaram: a participação no 2o Festival Internacional de Coros, em Porto Alegre, em 1974; e a apresentação do Jubileu de Prata do Coral, em 1980.
Maria se lembra da primeira, em particular, com muita clareza. “Mais de 70 grupos se apresentaram, e o nosso Coral foi um dos doze finalistas, escolhidos para encerrar o evento”, diz. A performance reverberou na imprensa, com o Jornal do Brasil (o terceiro periódico brasileiro mais antigo, após o Diário de Pernambuco e O Estado de S. Paulo) e O Globo oferecendo nada além de aclamação para os coristas.
“Um grupo de jovens universitários de Goiânia ministrou uma comovente lição de musicalidade e de amor à música, cantando obras renascentistas, negro-spirituals e todo um mosaico de cantos brasileiros, com um apuro de afinação, uma sonoridade de conjunto, um fraseio musical e uma dicção que dificilmente se encontram mesmo em grupos profissionais”, escreveu Edino Krieger para o Jornal do Brasil.
Se aposentou em 1983, após ter passado quase 30 anos dirigindo o Coral. Uma vez aposentada, iniciou uma grande viagem. “Passei por mais de 10 países da Europa, e também fui para o Havaí e o México”, diz. Acrescenta que seu marido, felizmente, não a restringia em respeito a isso. “Ele me dava liberdade e me deixava fazer o que quisesse”, conta. Em 2018, a UFG realizou uma entrega de título de Professora Emérita para Maria, um evento que ela considera seu “terceiro orgulho”, após as apresentações supracitadas do Coral.
Atualmente, Maria é viúva e mãe de 6 filhos, com os quais têm muita proximidade, em especial nos aniversários. Na comemoração deste ano, ela pediu um presente peculiar: mantimentos e cestas básicas para fins de doação. “Acredito que este legado [de dar e oferecer] é algo bom de se deixar”, explica.
Maria conta que, pela idade avançada, não sai muito de casa, mas sempre toca piano na missa de sábado na histórica Catedral Metropolitana de Goiânia, também conhecida como Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Mesmo aos 99 anos, mantém uma vida saudável, contando com o auxílio de um personal trainer e sessões de fisioterapia para exercitar o seu corpo. “Tudo isso me ajuda a manter a vitalidade”, diz.