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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 22/10/2020 - Notícias

O Globo: Na pandemia, parcela de jovens que não estudam nem trabalham bate recorde

Os chamados 'nem-nem' são 35,2% da população entre 20 e 24 anos, maior patamar já registrado. Crise fez empregos desaparecem, dificultando ingresso no mercado

O Globo: Na pandemia, parcela de jovens que não estudam nem trabalham bate recorde

A pandemia fez aumentar como nunca a parcela de jovens que não estudam nem trabalham, os chamados nem-nem. A população na faixa etária de 20 a 24 anos nessa situação subiu de 28,6% no último trimestre de 2019 para 35,2% no segundo trimestre deste ano, o maior patamar já visto e o maior avanço já registrado, especialmente em um intervalo de apenas seis meses.

Na faixa entre 25 e 29 anos, a população de nem-nem subiu de 25,5% para 33%, conforme informou ontem o colunista do GLOBO Ancelmo Gois.

— O problema está no mercado de trabalho, principalmente para os que estão se formando. Junta-se a crescente desigualdade educacional com a dificuldade dos jovens formados de se inserir no mercado de trabalho— alerta o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, que fez o levantamento.

Mais informalidade

É isso que está acontecendo com o publicitário Paulo Ilarindo, de 27 anos, que procura emprego desde que se formou há dez meses. Ele diz que chega a enviar cerca de 30 currículos por dia para vagas na área de administração e promoção de vendas, mas até agora não conseguiu ser chamado para qualquer entrevista.

— Esse ano já não tenho mais esperança de encontrar uma vaga fixa. Quem sabe no período de extras para o Natal, eu consiga um emprego temporário. Mas uma oportunidade mesmo só vai vir quando a economia estiver mais estável. Ficou muito mais difícil buscar emprego na pandemia, já que muitas empresas só aceitam currículo on-line — conta o publicitário, que mora com os pais em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio.

O mercado de trabalho expulsou os jovens, e a parcela de nem-nem, aqueles que não estudam nem trabalham, chegou a níveis recordes. A parcela de estudantes não diminuiu, mas o emprego desabou. A proporção de jovens de 25 a 29 anos empregados caiu de 70,5% para 60,9% entre o último trimestre do ano passado e o segundo deste ano.

Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, calculou o corte de emprego entre os jovens. Para os que têm entre 18 e 24 anos, a queda no emprego foi de 21,9% no segundo trimestre deste ano frente ao mesmo período de 2019. Na média, a perda foi de 10,7%:

— E ainda não sabemos como a pandemia vai afetar a evasão escolar, mas sabemos que a crise foi mais dura com os jovens mais pobres. De um ano para cá, a cada três jovens trabalhando, um perdeu o emprego. O que preocupa é como reinserir esse jovem no mercado.

Analistas preveem que a informalidade, que já era alta e crescente antes da pandemia, aumente ainda mais no ano que vem, quando o auxílio emergencial deve ser cortado. E os jovens são os principais candidatos à informalidade.

— Se entrar no mercado pela informalidade, vai ter mais dificuldade de conseguir um emprego formal, com prejuízo na renda futura — prevê Xavier, explicando que o trabalhador informal tem renda menor e menos treinamento.

O economista da Tendências defende investimento maior em qualificação voltada para as necessidades do mercado, atrelando a formação com a demanda das empresas:

— Se avaliar o que o empregador vai precisar ali na frente, pode-se tentar cruzar a necessidade da empresa com a do trabalhador.

Frequência escolar

O avanço dos nem-nem não foi por redução na frequência escolar. Pelo contrário, a escolarização aumentou no período, mas não conseguiu compensar o tombo no mercado de trabalho. Neri diz que os jovens conseguiram lidar melhor com o estudo digital, principalmente os mais velhos.

Entre 20 e 24 anos, a frequência subiu de 26,1% para 29,1%. De 25 a 29 anos, passou de 13,1% para 14,2%. Entre os adolescentes, o mesmo fenômeno.

— Se não tem emprego, o jovem continua a estudar. Já tem um bom manejo de internet e se saiu melhor que a faixa etária entre 6 a 15 anos no ensino virtual. Em termos de frequência escolar, o ensino juvenil foi menos afetado que o do grupo de crianças — afirma Neri.

Na renda, os jovens também foram mais afetados. Os ganhos com o trabalho caíram 23,8% entre 20 e 24 anos. Na média, a queda foi de 15,4% entre o fim de 2019 e segundo trimestre de 2020.

Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo