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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 13/01/2022 - Notícias

O Popular: Um processo doloroso, diz nova reitora sobre escolha de Bolsonaro

Professora Angelita Lima era o terceiro nome indicado em lista tríplice pela UFG. Sandramara Chaves tinha vencido eleição.

O Popular: Um processo doloroso, diz nova reitora sobre escolha de Bolsonaro

Enquanto não recebe o contato do Ministério da Educação (MEC) para definir o rito de sua posse como reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG) pelos próximos quatro anos, a professora Angelita Pereira Lima continua respondendo como diretora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). E foi entre uma reunião e outra na unidade que, nesta quarta-feira (12), ela atendeu à grande demanda da imprensa que ficou estancada assim que seu nome foi estampado no Diário Oficial da União (DOU) na terça-feira (11) como o escolhido para conduzir a instituição até 2025. O nome de Angelita Pereira Lima está no centro de debates por ser o último da lista tríplice encaminhada para a escolha do presidente Jair Bolsonaro (PL), contrariando a lógica democrática. A reitora em exercício Sandramara Chaves foi preterida, embora tenha sido eleita em junho pela comunidade universitária. Professora da UFG desde 2002 e filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), ela diz que está triste e constrangida, mas que unirá forças à atual equipe diretiva para preservar o projeto de gestão em andamento.

Que horas você recebeu a notícia?

No café da manhã. Eu estava falando com a minha secretária da FIC que sempre me passa as notificações do dia, mas àquela altura a professora Sandramara Chaves já tinha dado entrevista confirmando a informação. E logo este era o principal assunto dos grupos de mensagens da universidade. É claro que foi um choque, porque impacta a sua vida, mas como toda a universidade recebi com muita tristeza e com muito constrangimento.

Em algum momento previu que isso pudesse ocorrer?

De forma alguma. Na verdade é um deslocamento porque sempre fui um agente político. O primeiro impacto, de maneira abrupta e violenta, é a responsabilidade que se apresenta. Estávamos aguardando a nomeação da professora Sandramara há mais de seis meses e o Ministério da Educação deu a resposta na madrugada do dia 10 para 11. Já na próxima semana temos de assumir. Não havia motivos para a professora Sandramara não ser nomeada do ponto de vista da experiência, da gestão. Do ponto de vista político, por que o governo federal contraria lideranças locais? Jamais poderíamos pensar que a UFG seria objeto de um ato desses, porque não é uma situação normal. Está dentro do rito, mas é a primeira vez que isso ocorre na história da universidade.

Nesta terça-feira, quando a notícia se espalhou, você se resguardou, preferiu não se manifestar? Como foi esse dia?

Tínhamos de ter um posicionamento em nome da instituição. Fui nomeada, mas ainda não tomei posse. Não poderíamos enfraquecer o nome da instituição. A professora Sandramara, até o final do seu mandato, permanece na nossa liderança. A UFG foi ferida em sua autonomia institucional e ela foi firme nesta defesa, demonstrou um gigantismo impressionante.  

O ex-reitor Edward Madureira não escondeu o seu desolamento com a decisão do governo federal. Como viu isso?

Não entendo isso como algo pessoal. O desolamento foi em decorrência dessa situação de desrespeito. É uma tristeza que tomou conta de todos nós, por isso temos de entender. O professor Edward passou por três mandatos como reitor e foi duas vezes presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e agora vê a UFG ser tratada dessa forma.

Quais os próximos passos?

Tem de ser do governo federal, a definição da posse. Eu falo pela unidade acadêmica da qual sou diretora. O Ministério da Educação marca, conduz e dá posse. Como reitora eu emposso os diretores de unidades. Eu e a professora Sandramara vamos, a cada dia, tratar dos temas prioritários, mas é um processo doloroso.

Já conseguiu pensar na composição da sua equipe?

Não tive tempo para isso, mas a professora Sandramara constitui o grupo que gere a UFG, ela está comprometida com o projeto e conhece todos os processos.

Você teme uma resistência dentro da universidade à sua posse? Como analisa o posicionamento dos sindicatos de professores e técnicos administrativos e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) de contestar a sua indicação pelo fato de não ter sido votada pela comunidade universitária?

Eu acho as manifestações absolutamente normais e necessárias. É preciso diferenciar que as manifestações e as críticas são dirigidas ao processo e não às pessoas. As manifestações são justas, importantes e necessárias e fazem a universidade amadurecer. Temos de ter maturidade para entender que não sou eu em questão, mas um processo. Numa situação adversa, o principal desafio é unificar. É preciso focar no governo federal.

Você vai sair da direção da FIC e gerir a UFG que possui uma megaestrutura, com mais de 30 unidades acadêmicas e 11 órgãos administrativos. Isso te assusta?

Do ponto de vista da gestão muda a escala, mas será um aprendizado. É preciso lembrar que, quando o professor Edward Madureira foi reitor pela primeira vez, ele deixou a direção de uma unidade acadêmica. O mesmo ocorreu com a professora Milca Severino. Ou seja, esses movimentos são possíveis dentro da universidade.

Sandramara pode participar da nova gestão

Em entrevista à coluna Giro, do POPULAR, a nova reitora da UFG, Angelita Lima, adiantou que seu mandato será de defesa do projeto eleito, que vai “defender” o projeto ao lado de Sandramara Chaves, a mais votada em consulta interna no ano passado, e que há tendência de presença de Sandramara na gestão. “Eu não estou fora do projeto. Estou no projeto e ela (Sandramara) não abandona o projeto. A forma de viabilizar isso não temos condições de responder. Nós vamos defender o projeto. Eu, Sandramara, Edward (Madureira Brasil, ex-reitor) e Jesiel Carvalho (primeiro nome da lisa tríplice para vice-reitor) vamos defender esse projeto”, disse na manhã desta quarta-feira (12). Ao ser questionada sobre o tipo de participação de Sandramara, Angelita diz que não houve tempo para debater o assunto. “Embora soubéssemos do risco, ninguém contava que ela não fosse ser nomeada. A gente lutou muito por isso. Na vida real, se passou 24 horas. Acho até violento fazer qualquer tipo de pergunta desse tipo a ela. De qualquer maneira, é público e notório que participei da campanha.” Angelita disse também que o grupo precisa de tempo para definir o que será feito a seguir. “Em junho a lista tríplice foi formada e enviada ao Ministério da Educação. O governo (federal) controlou o relógio até o último minuto e tem apenas 24 horas que saiu a nomeação.”

Reitoria é alvo de protestos

Em protesto pela não nomeação de Sandramara Matias Chaves para o cargo de reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), um grupo composto por alunos do Diretório Central de Estudantes (DCE), professores, técnicos administrativos e movimentos sindicais ligados à universidade ocupou a reitoria da Instituição da manhã de quarta-feira (12). Em vídeos enviados ao POPULAR é possível ver o grupo se manifestando com gritos contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com entidades ligadas à UFG e a movimentos estudantis, Bolsonaro, com a escolha, “desrespeita a vontade da maioria dos professores, estudantes, técnicos administrativos da instituição e despreza a autonomia universitária”. Segundo a coordenadora do DCE, Letícia Scalabrini, o grupo iria permanecer no local enquanto estiverem redigindo uma carta, que será direcionada para o Ministério da Educação (MEC). “Queremos que o MEC venha dialogar conosco”, disse.