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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 21/08/2025 - Jornal do Professor

"Ser professora foi uma opção política", afirma professora Ana Christina de Andrade Kratz

Dona de uma vida inteira dedicada à educação e a militância política, aos 82 anos a docente segue se dedicando à formação de professores

O quadro Trajetórias desta edição traz o relato da professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG) Ana Christina de Andrade Kratz. Com mais de 65 anos dedicados à docência e à militância política, ela segue, aos 82 anos, atuando em defesa da educação pública e dos direitos dos docentes. 

Na gestão 2022/2025 ocupou o cargo de diretora de Assuntos de Aposentadoria e Pensão no Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg), onde continua promovendo projetos voltados ao bem-estar dos aposentados.

Do colégio Lyceu à Universidade

Nascida em 1943, em Belo Horizonte (MG), Ana Kratz mudou-se para Goiânia ainda criança. Inicialmente, tentou ingressar na Universidade de Brasília (UnB), mas o golpe militar de 1964 interrompeu seus estudos. Foi obrigada a deixar a instituição e se transferiu para São Paulo. Posteriormente, voltou a Goiânia, já casada, e concluiu sua graduação em Ciências Sociais na UFG em 1969. Em seguida, obteve o mestrado em Sociologia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1971.

Sua militância política começou cedo, em 1958, como integrante da Frente Legalista de Estudantes Secundários do Colégio Lyceu de Goiás. Desde então, assumiu a defesa da educação pública como bandeira principal, passando por intensas mobilizações estudantis, inclusive contra acordos internacionais que ameaçavam a autonomia educacional brasileira.

"Minha militância é antiga. Lutei ainda na década de 50 pelo 'Petróleo é Nosso' e o fortalecimento da Petrobrás. Depois, durante o período da Ditadura Militar transcrevemos textos marxistas e outros proibidos pelo regime, fizemos reuniões clandestinas. A Cúria Metropolitana nos acolhia. Era um tempo de resistência e de muita luta", relembra.

Em 1973, ingressou como professora na Faculdade de Educação da UFG, onde permaneceu até se aposentar, em 1991, aos 48 anos. Atuou como professora de Estágio Supervisionado de Ciências Sociais, colaborou na criação de cursos de especialização e mestrado, e assumiu papéis de gestão, como superintendente de Planejamento da Secretaria de Educação do Estado e presidente do Conselho Estadual de Educação, sendo  a primeira mulher a ocupar o cargo.

Atuação sindical

Mesmo após a aposentadoria, Ana Kratz manteve seu engajamento com a universidade e a luta sindical. No Adufg, ajudou a fundar o tradicional evento Sextart, voltado para aposentados, e liderou encontros em Caldas Novas ainda nos anos 1990 e 2000.O envolvimento a levou à diretoria do sindicato: foi tesoureira, depois diretora de Assuntos Jurídicos e de Convênios, e, por fim, diretora de Aposentadoria. 

Durante a pandemia, foi responsável por iniciativas que incentivaram a participação ativa dos aposentados, mesmo em isolamento social. “Busquei fortalecer as pautas dos aposentados e apoiar programas que melhorem sua qualidade de vida”, afirma.

Educação como ferramenta de transformação

Para Ana, a docência sempre foi mais do que uma profissão: foi um ato político. “A opção por ser professora não foi vocacional, mas política. Sempre vi a educação como espaço de libertação. Ensinar é fazer com que os jovens pensem e construam uma sociedade mais justa”, revela.

Ela destaca com orgulho dois momentos marcantes de sua trajetória: sua atuação durante a Assembleia Constituinte, na construção de um capítulo progressista para a educação na Constituição Federal, e a assessoria na elaboração de leis orgânicas municipais. “Foi uma luta coletiva. Tive a honra de representar a UFG no Congresso Nacional, e também de atuar na Constituinte Estadual”, relembra.

Mensagem para novas gerações de professores

Ao refletir sobre seu legado, Ana Kratz deixa uma mensagem contundente para os jovens que pensam em seguir carreira docente:

“Ser professor é uma responsabilidade gigantesca. Formar alguém é muito mais do que transmitir conhecimento: é despertar pensamento crítico, oferecer condições para que cada indivíduo construa suas próprias convicções. Se um aluno não aprende, o problema não é dele, é nosso, que não conseguimos motivá-lo. A maior realização é formar professores comprometidos com a integridade emocional, física e cultural de seus alunos.”

Orgulhosa de sua trajetória e da família de educadores que formou, com dois filhos professores, uma filha atuando em educação à distância e um neto na área, Ana Kratz segue como exemplo vivo de que ensinar, de fato, é um ato de resistência e transformação.