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De Goiás para o Brasil: insumos do Cerrado conquistam mercado de cosméticos
Empresa goiana aposta na bioeconomia

No coração do Cerrado, onde a diversidade natural pulsa com força e ancestralidade, uma empresa goiana tem inovado ao transformar espécies nativas como baru, jatobá e barbatimão em insumos de alto valor para os setores de saúde e beleza. “Essas escolhas não apenas diferenciam nossos produtos no mercado, mas também fortalecem cadeias produtivas regionais e promovem o desenvolvimento sustentável”, afirma Nathália Barbosa, fundadora da LunaGreen.
Criada em Aparecida de Goiânia a partir de uma pesquisa de mestrado, a LunaGreen une ciência, tradição e sustentabilidade para desenvolver cosméticos naturais com base em plantas do Cerrado. A iniciativa mostrou que é possível transformar conhecimento popular em pesquisa e gerar impacto ambiental positivo, além de transformar a ideia em um negócio de verdade, competitivo e com raízes profundas no bioma com a maior área desmatada do Brasil, segundo o MapBiomas Alerta. “A empresa nasceu da minha pesquisa acadêmica, onde identifiquei o potencial de resíduos agroindustriais, como a goiaba, para gerar inovação no mercado cosmético”, conta Nathália, doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFG.
Bioeconomia em expansão
Esse movimento está inserido em um cenário global de transformação. A bioeconomia movimenta atualmente entre US$ 4 e 5 trilhões por ano, segundo o relatório Financing a Sustainable Global Bioeconomy, publicado pela organização NatureFinance em 2024. A estimativa é de que esse valor possa chegar a US$ 30 trilhões até 2050, refletindo a crescente demanda por soluções sustentáveis baseadas na biodiversidade, tecnologia e inovação. Nesse contexto em plena expansão, o Cerrado goiano surge como território estratégico.
O bioma, reconhecido por sua biodiversidade única, tem sido alvo de investimentos públicos e privados. No ano passado, o Governo de Goiás investiu cerca de R$ 200 milhões nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, com foco em bioeconomia, saúde e conservação ambiental, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
Mais que uma localização geográfica, o bioma é a essência da LunaGreen, que além de apostar nos insumos nativos, realiza a extração em parceria com uma cooperativa de mulheres em Jussara, no interior de Goiás. "Valorizamos parcerias com comunidades locais, pequenos produtores e iniciativas de agricultura familiar. Os insumos são obtidos respeitando práticas sustentáveis de coleta e cultivo, priorizando fornecedores que atuam com manejo responsável e rastreabilidade. Em alguns casos, oferecemos apoio técnico para garantir a qualidade e a padronização da matéria-prima, incentivando também a geração de renda e a valorização dos saberes tradicionais dessas comunidades", conta a empresária.
"Cada ingrediente carrega uma história, uma origem ética e uma composição rica em fitocomplexos. Por serem extraídos de espécies nativas e adaptadas ao bioma do Cerrado, muitos apresentam alta concentração de compostos bioativos, como antioxidantes e ácidos graxos essenciais. Isso confere aos produtos finais uma performance diferenciada, além de agregar valor em termos de sustentabilidade, rastreabilidade e propósito", acrescenta.
E a inovação vai além das plantas. Um dos ingredientes desenvolvidos pela empresa reaproveita quartzo descartado pela indústria mineradora, mostrando que até resíduos minerais podem ganhar novo significado dentro de uma cadeia cosmética de baixo impacto ambiental.
"Também incorporamos práticas de upcycling em nossa linha de ingredientes, como o uso do quartzo de reaproveitamento da indústria mineradora local, transformando um resíduo industrial em um ativo funcional e estético para a cosmética, reforçando nosso compromisso com a sustentabilidade e a inovação de baixo impacto ambiental", explica.
Cerrado como potência
Goiás reúne todos os elementos para se consolidar como protagonista da nova bioeconomia brasileira, unindo inovação, tradição e natureza na construção de um futuro mais sustentável e próspero. E mais do que uma alternativa aos mercados convencionais, essa visão representa uma transformação na forma de produzir, consumir e cuidar do território.
"Empreender com sustentabilidade não é apenas sobre produto, mas sobre propósito e sobre atender às reais necessidades das pessoas. É preciso buscar soluções que gerem valor para o mercado e para a sociedade ao mesmo tempo. E, principalmente, construir redes: ninguém inova nem cresce sozinho. Parcerias com universidades, instituições como o Sebrae e com quem já cuida da biodiversidade há gerações são fundamentais para crescer com impacto positivo", reforça a empresária Nathália Barbosa.