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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 23/06/2025 - FAPEG, Na mídia

CEBIO impulsiona a inovação científica em bioinsumos em Goiás

Novas pesquisas e iniciativas em bioinsumos desenvolvidas no Centro de Excelência em Bioinsumos (CEBIO) garantem produção agrícola mais sustentável, reduzem dependência por insumos químicos convencionais importados, custos de produção e emissão de CO₂

CEBIO impulsiona a inovação científica em bioinsumos em Goiás

O estado de Goiás assume o protagonismo no processo de inovação e sustentabilidade agrícola. Em menos de quatro anos, o Centro de Excelência em Bioinsumos (CEBIO) se consolidou como o mais ambicioso projeto do Centro-Oeste Brasileiro e se prepara para enfrentar o dilema da agricultura global: garantir segurança alimentar sem destruir os ecossistemas. Nesse cenário, os bioinsumos surgem como solução baseada em pilares econômicos, sociais e ambientais, devolvendo equilíbrio ao solo, reduzindo emissões de gases de efeito estufa, sendo eficientes no controle de pragas e doenças na agricultura e promovendo biodiversidade. O CEBIO já conta com pesquisas promissoras para Goiás e para o Brasil.

“A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) investiu mais de R$ 20 milhões para a criação física, institucional e científica do CEBIO consolidando-se como protagonista na promoção de uma nova agenda para a agricultura sustentável em Goiás”, destaca o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), Alan Carlos da Costa. Ele explica que, por meio de investimentos robustos e da articulação com instituições públicas e produtivas, a FAPEG impulsionou a estruturação de biofábricas, a formação de redes de pesquisa aplicada e a interiorização de tecnologias limpas, posicionando o estado como referência nacional em inovação agroambiental baseada em bioinsumos. O CEBIO possui coordenação geral das atividades gerida pelo IF Goiano e pela Diretoria Geral e governança exercida pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IF Goiano.

Para Alan Carlos, a Fundação foi além do fomento: “articulou uma estratégia estadual de inovação agrícola inclusiva, priorizando territórios vulneráveis, comunidades tradicionais e a promoção da igualdade de gênero e raça no acesso à ciência e à tecnologia. Com esse apoio, o CEBIO se tornou um instrumento real de políticas públicas para o cumprimento de diversos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU”. Além da inovação científica em bioinsumos, o Centro de Excelência está mudando a paisagem social, ambiental e econômica da agricultura goiana, com forte presença de mulheres garantidoras da segurança alimentar, associações de agricultores familiares situadas em várias regiões do Estado de Goiás, comunidades quilombolas, povos originários e jovens de comunidades tradicionais, além de gerar resultado de alto impacto técnico-científico a serem adotados por pequenas, médias e grandes propriedades rurais brasileiras.

As pesquisas realizadas no CEBIO representam marcos importantes no avanço da sustentabilidade agrícola em Goiás ao oferecerem alternativas biológicas cientificamente validadas para o manejo de doenças e pragas em culturas de elevada relevância econômica, como o tomate industrial e a soja, como exemplos entre inúmeras outras. Essas iniciativas reforçam a vocação do estado como polo de inovação em bioinsumos e destacam o protagonismo do Centro de Excelência nesse contexto.

Pesquisas de vanguarda

A mancha bacteriana do tomate é uma das principais doenças que afetam essa cultura em Goiás, impactando diretamente a produtividade e a rentabilidade dos produtores. Estudo liderado pelo professor dr. Nadson de Carvalho Pontes e intitulado “Isolation, characterization, and evaluation of putative new bacteriophages for controlling bacterial spot on tomato in Brazil” de Sousa et al. (2023) – Isolamento, caracterização e avaliação de novos bacteriófagos putativos para o controle da mancha bacteriana do tomateiro no Brasil – e publicado na revista científica Archives of Virology (https://link.springer.com/article/10.1007/s00705-023-05846-y ) apresenta descobertas significativas para a agricultura goiana. Foram isolados bacteriófagos visando ao controle biológico da mancha bacteriana causada por Xanthomonas euvesicatoria pv. perforans. Em testes in vivo, a aplicação dos bacteriófagos reduziu a severidade da mancha bacteriana em tomates, apresentando eficácia igual ou superior ao uso de hidróxido de cobre, um bactericida químico tradicional. Análises por microscopia eletrônica e filogenéticas indicaram que os bacteriófagos pertencem à família Autographiviridae, gênero Pradovirus, sugerindo a descoberta de uma possível nova espécie dentro desse grupo.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do IF Goiano, campus Morrinhos, que abriga uma das Unidades de Referência em Bioinsumos (URB) do CEBIO, focada no Controle Biológico de Doenças de Plantas. Essa descoberta gera perspectivas para o desenvolvimento de soluções biológicas adaptadas ao bioma Cerrado, promovendo a sustentabilidade agrícola regional, além de reduzir a dependência de defensivos químicos, oferecendo alternativas mais seguras e ambientalmente amigáveis para o controle de doenças em culturas importantes, como o tomate para processamento industrial e de mesa.

“A identificação e caracterização de novos bacteriófagos com alto potencial de controle sobre a mancha bacteriana do tomate — doença crítica para a produção goiana — aponta para soluções adaptadas ao bioma Cerrado que reduzem a dependência de produtos químicos tradicionais. O fato de esses agentes biológicos apresentarem eficácia semelhante ou superior ao hidróxido de cobre ressalta seu potencial de substituir práticas convencionais por métodos mais seguros, especialmente para agricultores familiares e médios produtores que buscam práticas mais sustentáveis e econômicas”, destaca Alan Carlos.

Bioinseticida contra o percevejo-marrom

Estudo liderado pelos pesquisadores André Cirilo de Almeida e Flávio Gonçalves de Jesus da URB CEBIO de Controle Biológico de Insetos-Praga em parceria com a pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão, Eliane Dias Quintela, foi publicado na revista científica Journal of Fungi em 2025 (https://www.mdpi.com/2309-608X/11/4/247 ) e investigou o uso do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae como bioinseticida contra o percevejo-marrom (Euschistus heros), uma praga significativa na cultura da soja no Brasil.

O fungo demonstrou alta virulência, causando até 98% de mortalidade em adultos do percevejo mesmo em baixas concentrações. Utilizando a técnica de eletropenetrografia (EPG) observou-se que os percevejos tratados reduziram significativamente suas atividades de alimentação, com diminuição de 86% do tempo de sondagem no quarto dia após a aplicação e cessação completa no quinto dia. A infecção pelo fungo resultou em menos perfurações nas sementes de soja, indicando menor dano à cultura mesmo antes da morte dos insetos.

“Esse estudo científico onde os efeitos do fungo entomopatógeno sobre o inseto-praga foi constatado em apenas 96 horas desmistifica uma ideia errônea vinculada ao uso de bioinsumos no controle de pragas, onde se cogitava sem comprovações científicas adequadas, que seus efeitos seriam lentos em comparação a outras formas de controle. Goiás é um dos principais estados produtores de soja no Brasil, e o manejo sustentável de pragas é crucial para a manutenção da produtividade. A aplicação de Metarhizium anisopliae como bioinseticida oferece uma alternativa eficaz aos inseticidas químicos tradicionais, que enfrentam desafios como resistência de pragas e impactos ambientais negativos”, destaca Alexandre Igor.

O pró-reitor de pesquisa, Alan Carlos explica que ambos os estudos foram desenvolvidos em Unidades de Referência em Bioinsumos (URBs) do CEBIO, o que evidencia a função estruturante do centro na geração de ciência aplicada, desenvolvimento de tecnologias adaptadas e validação de soluções sustentáveis. “O CEBIO não apenas fomenta pesquisas com potencial de aplicação imediata, como também promove a difusão dessas inovações junto aos agricultores, através de suas Unidades de Transferência de Tecnologia (UTTs). Nesse cenário, o CEBIO, com o suporte estratégico da FAPEG, consolida-se como um ecossistema de inovação agroambiental, contribuindo de forma decisiva para o cumprimento de metas de redução de impactos ambientais, aumento da resiliência produtiva frente às mudanças climáticas e fortalecimento da bioeconomia regional”, diz o pró-reitor.

Metas arrojadas


O CEBIO tem se antecipado a novos desafios na agricultura de Goiás, rastreando gargalos e gerando novas soluções, criando novas metas de médio prazo, de impacto estadual, nacional e internacional, entre elas a implantação de uma plataforma integrada de rastreabilidade e qualidade de bioinsumos em Goiás com intuito de consolidar um sistema estadual que integre dados de adoção territorial de bioinsumos, análises de controle de qualidade e indicadores de descarbonização em lavouras de soja e algodão. Essa meta possui como impacto o apoio a políticas públicas com evidências, garantir a rastreabilidade e permitir a certificação ambiental e acesso a mercados exigentes.

O pró-reitor também fala da consolidação de BioBancos Regionais do Cerrado, com a finalidade biotecnológica no sentido de criar, preservar e catalogar microrganismos nativos do bioma Cerrado com aplicação agrícola. A previsão é de que sejam instalados ao menos dois BioBancos regionais até 2026. Essa meta visa reduzir a dependência de cepas importadas, valorizar a biodiversidade local e fomentar biofábricas regionais.

A operacionalização do CEBIO ACADEMY, um hub de capacitação territorial em bioinsumos, com meta de qualificar mais de 300 pessoas por ano em diversas regiões e até no exterior, suprindo a demanda por mão de obra especializada; e a expansão do CEBIOEntrega, pacote tecnológico que atende à nova Lei Federal de Bioinsumos (Lei 15.070/2024), assegurando rastreabilidade, documentação técnica e biossegurança na distribuição gratuita de microrganismos para associações de produtores familiares e comunidades tradicionais (quilombolas), produtores familiares, cooperativas, assentamentos agroecológicos, fortalecendo Goiás como referência nacional em bioinsumos públicos; também estão entre as metas do CEBIO.

De olho nos bioinsumos


“No Brasil, com sua dependência de insumos importados, a produção local de bioinsumos representa soberania alimentar e ambiental. Após a pandemia, durante a atual guerra entre Ucrânia e Rússia, e com os efeitos das mudanças climáticas, a adoção desses insumos se tornou prioridade nacional”, destaca Alexandre Igor. Os olhos do mundo se voltam para o tema. No último dia 14/05, a pesquisadora brasileira, engenheira-agrônoma e microbiologista Mariangela Hungria ganhou o Prêmio Mundial de Alimentação de 2025, premiação considerada como o “Nobel da Agricultura” por sua pesquisa com soluções biológicas que substituem fertilizantes químicos e aumentam a produtividade. Sua pesquisa ajudou agricultores do país a aumentarem significativamente a produção de grãos.

Leque de atuação


Em Goiás esse processo é liderado pelo CEBIO graças ao apoio da FAPEG. “São mais de 400 pesquisadores diretamente relacionados em diferentes frentes de trabalho atuando, compreendendo docentes permanentes do IF Goiano, UFG, UFCat e UEG, além de bolsistas de pós-doutorado, doutorado, mestrado, iniciação científica e alunos do ensino médio de várias regiões do estado de Goiás”, destaca o diretor-geral do CEBIO, Alexandre Igor Azevedo Pereira.

Alexandre Igor cita que o CEBIO tem atuado em pesquisas com promotores do crescimento vegetal, indutores de resistência de plantas contra diferentes tipos de estresse, controle biológico de insetos-praga, controle biológico de doenças de plantas, seleção, multiplicação e validação agronômica de algas, viabilidade econômica no uso de bioinsumos, testes de eficiência de novos produtos em campo, avaliações de novos procedimentos operacionais para multiplicação de microrganismos em laboratório, confecção de materiais técnicos para socialização de inovações em bioinsumos, além de publicações de artigos em periódicos nacionais e internacionais de alto fator de impacto e sob revisão ad hoc, desenvolvimento de novos protótipos de instrumentação para multiplicação microbiológica para a agricultura familiar, ideação de AgroStartups na área de bioinsumos, padronização de protocolos de controle de qualidade em laboratório e em campo, bioprospecção de novos microrganismos do bioma Cerrado com potencial agrícola, pesquisa, desenvolvimento e inovação em biorefinarias, avaliação de remineralizadores integrados aos bioinsumos, microbiologia molecular, entre outras ações.

Especialização


Mais de 300 alunos de diversas regiões do Brasil estão regularmente matriculados na especialização lato sensu em Bioinsumos, ofertada pelo IF Goiano e o CEBIO. A especialização é uma iniciativa pioneira e gratuita no Brasil, com reconhecimento do MEC. Com aulas remotas e práticas presenciais em unidades especializadas do Cebio, participação em projetos estratégicos e em eventos científicos, o curso visa formar profissionais qualificados para atuar nas áreas produtiva, regulatória e científica dos bioinsumos, promovendo uma agricultura mais sustentável, moderna, segura em alinhamento com políticas públicas como o Plano ABC+Goiás.

“A pós-graduação preenche uma lacuna na formação técnica e científica sobre o uso responsável de microrganismos, biofertilizantes e outras tecnologias sustentáveis. Os alunos tornam-se multiplicadores de conhecimento, capacitados para substituir insumos químicos por soluções biológicas, desenvolver projetos, prestar consultorias e atuar em pesquisa e transferência de tecnologia”, ressalta Alan Carlos.

Mapa do CEBIO

O Centro de Excelência atua em dois grandes eixos: três Unidades de Referência em Bioinsumos (URBs) e nove Unidades de Transferência de Tecnologia (UTTs).

As URBs têm como foco central a pesquisa científica, inovação e transferência tecnológica no campo dos bioinsumos. Estas unidades desenvolvem protocolos de pesquisa básica e aplicada em Promotores de Crescimento de Plantas (URB de Rio Verde), Controle Biológico de Doenças de Plantas (URB de Morrinhos) e Controle Biológico de Pragas (URB de Urutaí); apoiam a implantação de biofábricas com controle rigoroso de qualidade e credenciamento laboratorial; trabalham na expansão de coleções de microrganismos e inimigos naturais nativos do Cerrado, transformando-os em pacotes tecnológicos e serviços; validam a eficiência agronômica de bioinsumos em casas de vegetação, semi-campo e campo; apoiam a formação de startups, promovendo empreendedorismo e inovação no setor de bioinsumos; e estabelecem conexões com programas de Pós-Graduação e contribuem para formação de recursos humanos altamente qualificados.

A transferência do conhecimento gerado pelas URBs para o setor produtivo é tarefa das UTTs através da aplicação prática e difusão das tecnologias de bioinsumos, como a prospecção de problemas locais e demandas dos produtores de pequeno, médio e grande porte, adaptando soluções tecnológicas ao contexto regional; da multiplicação, formulação e avaliação de bioinsumos com foco na realidade do arranjo produtivo local; da organização de eventos como dias de campo, palestras, cursos e capacitações técnicas; formação de recursos humanos locais, promovendo cursos e treinamentos contínuos; de estímulo ao empreendedorismo regional, inclusive com apoio a criação de startups; de estabelecimento de parcerias com empresas, ONGs, cooperativas e associação de produtores para pesquisa aplicada e transferência tecnológica; da avaliação da eficiência dos bioinsumos em campo, uso de áreas demonstrativas e liberação controlada, em termos legislativos, dos bioprodutos; e colaboração contínua com as URBs e a Direção Geral do CEBIO, para o desenvolvimento de protocolos, execução de planos de ação atualizados e geração de relatórios de resultados.