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Autor: Ascom Adufg-Sindicato
Publicado em 25/07/2025 - Notícias
Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha reforça luta por direitos e justiça social

Neste 25 de julho é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data que reconhece a luta, a resistência e as contribuições das mulheres negras nas Américas. No Brasil, a data também homenageia Tereza de Benguela, símbolo de liderança, resistência e luta do povo negro contra a escravidão no século XVIII.
Tereza foi uma mulher negra que comandou o Quilombo do Quariterê, no atual estado de Mato Grosso, por cerca de 20 anos. Sob sua liderança, a comunidade resistiu bravamente à escravidão, mantendo uma organização social, política e econômica própria. Em 2014, o Congresso Nacional oficializou o 25 de Julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Para refletir sobre o significado da data e os desafios atuais, o Adufg-Sindicato conversou com a professora Luciana de Oliveira Dias, docente da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e secretária de Inclusão da instituição.
Em entrevista, a professora destaca que o 25 de Julho é, sobretudo, um símbolo de resistência e articulação política das mulheres negras diante de uma sociedade historicamente marcada pelo racismo e pelo sexismo. Para ela, a organização coletiva é fundamental na conquista de direitos. “As mulheres negras precisam se organizar para lutar por democracia política, para reivindicar e garantir direitos. As sociedades têm bases muito discriminatórias. O racismo é estrutural e atinge a população negra de forma profunda, mas incide sobre as mulheres negras de forma ainda mais intensa”, afirma Luciana.
Ela ressalta que o racismo, quando somado ao machismo, resulta em violências múltiplas e mais severas. “A violência contra as mulheres negras é exponencial. É maior do que a sofrida por homens negros, justamente por ser atravessada também pelo machismo. Elas enfrentam um racismo conjugado com o sexismo”, explica.
Organização política como resposta
Diante dessa realidade, Luciana reforça a importância da mobilização política. “Essas mulheres precisam se reunir e discutir seus direitos: à educação, à saúde, ao lazer, ao trabalho, ao direito de ir e vir, ao direito de existir enquanto mulheres negras. A partir dessas discussões, constroem pautas políticas e as apresentam ao poder público”, destaca.
Julho das Pretas e a Marcha das Mulheres Negras
Um exemplo dessa articulação é o Julho das Pretas, mobilização nacional iniciada em 2013 e incorporada ao calendário da UFG em 2022, sob a coordenação da Secretaria de Inclusão. Neste ano, um dos focos principais é a Marcha das Mulheres Negras, prevista para novembro, em Brasília. “Mulheres negras do País inteiro vão a Brasília reivindicar direitos básicos, como acesso à educação, saúde, trabalho e moradia. Esses direitos ainda são escassos e, muitas vezes, não chegam até essas mulheres”, observa.
Ela também alerta para a exclusão no ensino superior. “Sem políticas que garantam o ingresso, a permanência e o pertencimento, essas mulheres ficam de fora da universidade. E mais grave: mesmo formadas, enfrentam o estigma de não serem vistas como profissionais qualificadas. Precisamos de políticas públicas que as reconheçam como intelectuais".
Romper estigmas, garantir direitos
Para a professora, é urgente romper estigmas que reduzem a mulher negra ao papel de militante. “Elas ainda precisam provar que podem ser boas profissionais, formadas em universidades públicas, que podem ser cientistas, intelectuais ou exercer qualquer profissão que desejarem. O Julho das Pretas serve justamente para isso: discutir direitos e apresentar pautas ao poder público".
Avanços e desafios
Luciana reconhece que a mobilização tem gerado resultados concretos. “Quando se articulam, as mulheres negras avançam na garantia de direitos. Essa movimentação pressiona o poder público e dialoga com a sociedade. Sem ela, os avanços são lentos". Ela cita o aumento da presença de mulheres negras em espaços de poder como um exemplo. “Se compararmos com dez anos atrás, houve avanço, sim. Mas ainda é insuficiente. A sub-representação persiste, mesmo sendo elas a maioria da população brasileira. É necessário envolver toda a sociedade civil nessa luta por justiça e equidade", conclui.