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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 13/07/2020 - Notícias

Jornal Opção: “Não tivemos um dia de lockdown. Apenas uma quarentena meia-boca que ninguém respeita”, afirma pesquisador da UFG

Responsável por modelo de projeção do aumento de casos e mortes em Goiás, Thiago Rangel diz que ataques nas redes sociais são risíveis de tão infantis

Jornal Opção: “Não tivemos um dia de lockdown. Apenas uma quarentena meia-boca que ninguém respeita”, afirma pesquisador da UFG
Professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG) | Foto: Reprodução/Facebook

Desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil, os gestores públicos são cobrados a apresentar o embasamento técnico que foi utilizado na hora de tomar decisões sobre ampliar as restrições nos Estados e municípios. Até mesmo na hora de retomar as atividades econômicas não essenciais, o presidente da República, governadores e prefeitos precisam explicar como chegaram à conclusão de que aquele era o momento de incentivar a ida de mais pessoa às ruas.

Doutor em Ecologia e Evolução, o professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG), se juntou aos colegas de UFG José Alexandre Felizola Diniz Filho e Cristiana Maria Toscano Soares para criar projeções de cenários da evolução dos casos e aumento do número de óbitos causados pela Covid-19 no Estado. Até aqui, o pior cenário apresentado nos estudos dos três cientistas tem se confirmado a cada crescimento de pessoas que testaram positivo para o novo coronavírus e a subida da curva de vítimas da doença.

Mas, de repente, começaram a colocar a culpa de tudo nas costas do Rangel. Ou ao menos tentaram nas redes sociais. O pesquisador, que não tem contas em sites como Facebook, Twitter e Instagram, soube por amigos das críticas e memes com seu nome e foto. “Quando chegam para mim através dos meus amigos, acabamos até por dar muita risada. Os ataques são muito infantis. Não são acompanhados de argumentos ou críticas construtivas. Ninguém mostra onde estamos errados.”

Depois da reunião virtual do dia 29 de junho, o sr. sofreu vários ataques nas redes sociais. Como o sr. reagiu às informações que circularam na internet? Por que o sr. acredita que tantas pessoas tiveram uma reação tão negativa após a apresentação das projeções de avanço da Covid-19 em Goiás?
Recebo com relativa tranquilidade. Não tenho rede social. Então não vejo os ataques. Não chegam diretamente a mim. Os que chegam já são atenuados por meus amigos. Alguém me dá notícia de que houve esses ataques. Quando chegam para mim através dos meus amigos, acabamos até por dar muita risada. Os ataques são muito infantis. Não são acompanhados de argumentos ou críticas construtivas. Ninguém mostra onde estamos errados.

Às vezes acredito que quem faz esse tipo de comentário, ataque, não tem qualificação para fazer críticas construtivas ou realmente desejaria que a realidade fosse diferente. Sem considerar o que fazemos, essa pessoa queria que a pandemia não existisse. Nesse ponto, até concordo. Mas infelizmente desejar não é suficiente para mudarmos a realidade.

Na semana retrasada, até tirei um pouco o meu rosto da TV para ver se esse tipo de ataque passava. Já voltei a dar entrevista, principalmente depois de publicarmos a última nota técnica, que inclui todo o detalhamento das projeções que foram apresentadas ao governador e que embasaram o último decreto do fechamento intermitente.

Tem duas coisas que gostaria de destacar. A primeira delas é que disseram que eu sou o responsável pelo lockdown em Goiás. O que é ridículo. Não ganhei voto na última eleição, não ocupo posição de decisão no Executivo. Do ponto de vista formal, não sou responsável por nada. Nem sequer fiz uma sugestão ou uma recomendação ao governador.

Apresentei o resultado de um modelo científico. Quem tomou a decisão foi o governador. A responsabilidade é inteiramente do governador.

Mas a população não entendeu, até de forma equivocada, ao ver os trechos daquela reunião que o sr. diz que o ideal seria um lockdown em Goiás. Mesmo que fosse o ideal, até o sr. demonstrou na ocasião que obrigar as pessoas a ficarem em casa não seria possível. Talvez isso não tenha impactado quem não compreendeu direito os trechos da reunião que foram divulgados?
É verdade. Eu falaria isso de maneira natural. Quando digo lockdown, falo sobre o que os outros países fizeram. Se pegarmos Espanha, Itália, França, a cidade de Nova York, ou mesmo China, Coreia, todos fizeram um lockdown de três meses. Mas aqui não tivemos um dia de lockdown, apenas uma quarentena meia-boca que ninguém respeita. O lockdown nos outros países significa não poder colocar o nariz para fora de casa. É um lockdown parecido com prisão domiciliar.

No Brasil, nos fixamos muito na história de fechar ou abrir o comércio. Na prática, temos arrastado uma luta que não tem como ganharmos desse jeito. Estamos a usar a arma errada. Quando digo que o ideal seria um lockdown, repito: o ideal seria um isolamento de 60% durante um mês. Desocuparíamos hospital rapidamente. Só que precisaria ser decretado um toque de recolher, com um fechamento marcial da cidade, que não ocorreu até agora.

Algo que ficou bem distante de 60% no último final de semana em Goiânia. O nível de isolamento ficou abaixo de 45% nos sete primeiros dias da quarentena intermitente.
Ficou muito distante porque várias prefeituras não adotaram, ninguém vê o risco da mesma maneira e, além disso – não sou da área de políticas públicas nem de ciências políticas -, estamos em um ano eleitoral. Os prefeitos, que são os que tomam as decisões em última instância, estão em campanha. Ficam nesta de não querer desagradar a população porque há uma parcela da população que nem enxerga o risco. Isso é muito ruim. Isso dificulta muito a coordenação em níveis hierárquicos do Estado de combate à pandemia.

Uma das notas mais recentes publicadas aponta para 30% a mais de mortes por Covid-19 em Goiás do que as que constam nos dados confirmados. Na terça-feira, 7, [quando a entrevista foi concedida] a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 715 óbitos. O cenário é de fato pior do que aquele apresentado pelos dados confirmados?
É preciso entender que existe uma defasagem natural. Isso não é culpa de ninguém. É culpa da pandemia. Não é possível apontar o dedo para um gestor. Existe uma defasagem entre o evento óbito e o evento notificação do óbito. Essa defasagem tende a aumentar na medida em que a pandemia avança para prefeituras do interior com cada vez menos recursos.

A estimativa atual [de terça-feira] é que enquanto falamos já ocorreram entre 950 e 1.050 óbitos [considerando que a defasagem seria de 30%, podemos estar com até 1.101 mortes, já que os dados oficiais da noite de sábado, 11, davam conta de 847 vítimas confirmadas]. Provavelmente cruzamos a linha dos mil óbitos na terça-feira. Ainda levaremos de dez a 20 dias para que os óbitos ocorridos na semana retrasada sejam computados naquela estimativa oficial.

Quando olhamos para trás e são computados os óbitos, não pela data da notificação, mas pela data do evento óbito, fica muito clara a diferença, a defasagem, o atraso de tempo entre o que ocorre no momento e o que é notificado. Posso dar exemplo, porque tenho compilado as publicações há muito tempo.

No dia 26 de junho, as notificações informavam que tínhamos cruzado o número de 400 óbitos. Chegamos ao final da noite de 26 de junho em 406 óbitos reportados pela secretaria. Dez dias depois, em 6 de julho, quando olhamos os dados pela data do evento óbito, no dia 26 de junho tínhamos cruzado 500 óbitos. Fechamos o dia com 525.

Enquanto a secretaria reportava 406 óbitos, já tinham morrido até o final da noite de 26 de junho 525 pessoas em Goiás. Isso se não forem notificados novos óbitos, que podem até elevar aquele número. Porque notei recentemente que, de tempos em tempos, notifica-se óbitos de abril, notifica-se óbitos de maio que ainda não entraram para a estatística oficial. Quando acompanhamos em que data cada óbito ocorreu e é notificado, podemos entender melhor a defasagem.

Parte das críticas feitas na internet trouxe questionamentos sobre a competência dos três pesquisadores responsáveis pelas projeções em Goiás, tanto direcionadas ao sr. quanto ao José Alexandre Felizola Diniz Filho, que foi seu orientador na graduação e no mestrado, e à professora Cristiana Maria Toscano Soares. Mas a sua área de atuação é modelagem e distribuição de espécies, estatística espacial, métodos de estatística e simulações computacionais, que tem ligação direta com o trabalho realizado. O que distancia as pessoas do que de fato é feito?
Tem dois problemas. O primeiro é um problema de má-fé, de tentativa de desqualificação, que é um efeito avestruz: enfiarei a minha cara no buraco porque a realidade desaparecerá e o mundo voltará a ser cor-de-rosa, como eu gostaria. É uma tentativa de desqualificação para levantar um descrédito ou uma desconfiança no trabalho que é feito.

O que as pessoas não entendem é que desde que Galileu comandou a revolução científica, argumento de autoridade não tem valor em ciência. Não importa a minha titulação. O que importa é o modelo que construímos. Você não precisa atacar a pessoa, basta atacar o trabalho.

Isso me leva à segunda questão que tem por trás: as pessoas não compreendem o que é e como funciona a ciência. Que diferença faz se um dia na vida fiz um trabalho que usa dados de beija-flor? Fiz mesmo, até mais de um. Tenho muito orgulho desses trabalhos. Não sou ornitólogo. Até teria o prazer em ser. Não sei identificar espécie de beija-flor. Não entendo quase nada sobre beija-flor. Mas as mesmas técnicas científicas que uso para estudar Covid-19 são as que usei para estudar beija-flor.

De que maneira? Eu estudei linhagens de beija-flor. São exatamente as mesmas técnicas computacionais e estatísticas que são usadas para mapear as linhagens do vírus Sars-CoV-2. “Mas tem uma cepa do vírus diferente no Sul em relação ao que está na Europa e na comparação com a que está nos Estados Unidos.” Se estuda isso com as mesmas técnicas que eu domino.

Desde a minha graduação, já acumulo mais de 20 anos de experiência em estatística, modelagem e simulação computacional. Essa é a minha formação do ponto de vista de ferramenta de trabalho e especialidade. Como objeto de estudo, já trabalhei com espécies e com línguas humanas. Onde se tem mais línguas, onde se fala línguas mais diferentes. Não conseguiram pegar esse trabalho porque o título está em inglês.

Na verdade, pegaram o beija-flor – acho até muito engraçado – porque abriram meu currículo Lattes e talvez a única coisa que esteja escrita em português seja os beija-flores. Não conseguiram sequer traduzir o resto. Senão teriam até encontrado alguns mais exóticos. Já trabalhei com bactéria, com dinossauro. Nada disso é o foco da minha pesquisa. Já trabalhei com simulação de dados de arqueologia.

É uma incompreensão de como funciona a ciência misturada com uma tentativa de desqualificação baseada em argumento de autoridade. Será que se fosse um médico existiria esse tipo de argumento? Provavelmente não. Arranjariam outro. Mas significa que um médico teria a mesma capacidade de simulação e modelagem computacional que eu tenho? Provavelmente não. No Brasil, em geral, os médicos não têm esse tipo de formação.

“É um efeito avestruz: enfiarei a minha cara no buraco porque a realidade desaparecerá e o mundo voltará a ser cor-de-rosa, como eu gostaria”

Outra questão que chama atenção em relação às criticas feitas ao sr. é o questionamento aos resultados das projeções apresentadas. Até o momento, o cenário crítico apresentado nos dados se tornou realidade. Mesmo com essa precisão, cabe a crítica? Se sim, a que ponto do trabalho?
Justificaria as críticas na má-fé. São pessoas que gostariam que a realidade fosse diferente. E estou junto com essas pessoas no desejo. Mentalmente, o que sei que não ajuda muito, também queria que a realidade fosse diferente. Como cientista, estou apegado à realidade e preciso de evidências.

Há também a falta de compreensão do que significa um modelo. Um modelo para um sistema dinâmico e complexo como uma sociedade de 7 milhões de pessoas não tem uma precisão matemática que teria um modelo físico, um modelo mecânico ou até um sistema eletrônico. Não temos essa capacidade em uma sociedade com tantos agentes independentes.

Fizemos projeções. Fomos absolutamente claros, explícitos e transparentes nas nossas projeções. Sabemos que chegará um momento em que o modelo perderá a tendência. Sabemos disso como cientistas, que o nosso modelo não é perfeito. Isso não é uma bola de cristal.

A maior falta de compreensão em relação a como a ciência funciona diz respeito à origem das incertezas. É claro que existe incerteza nos parâmetros epidemiológicos: quantas pessoas ficarão doentes, quantos leitos são necessários, quanto tempo leva a incubação, se o isolamento social é uma medida perfeita para capturar a velocidade de transmissão. Todas são incertezas pertinentes e inerentes ao modelo.

Mas a maior fonte de incerteza não está no modelo. Está em como a sociedade se comportará. Em abril, quando criamos dois cenários, um em que o isolamento era baixo e tendia a cair e outro cenário no qual o isolamento permanecia constante, não tínhamos bola de cristal para saber quanto a população iria se convencer da necessidade de se isolar.

Até mesmo nas últimas notas técnicas, continuamos com as mesmas incertezas. Não sabemos se o decreto do governador irá funcionar, se as pessoas serão convencidas, se o prefeito do interior adotará uma medida de 14 por 14. Se existe uma incerteza muito maior do que a incerteza científica é a incerteza sobre o futuro e como a sociedade responderá ao isolamento. Essa é a nossa maior fonte de incerteza.

E como lidamos com essa incerteza? Não fazemos previsão. Não dizemos o que irá ocorrer. Fazemos uma projeção de cenários alternativos. Não temos um único cenário porque não sabemos como a população irá responder. Temos um cenário superior, um cenário inferior, que são o pior e o melhor cenários, servem para estabelecermos limites dentro do que é possível ou mais provável.

As pessoas fazem a crítica específica aos 18 mil óbitos do cenário vermelho. Mas a notícia não é que a UFG ou o modelo prevê 18 mil óbitos. Isso não é uma previsão, é uma projeção. A notícia é: o modelo da UFG projeta que, no pior cenário, morreriam 18 mil pessoas em Goiás até setembro. Ou, se quiser simplificar: a Universidade Federal de Goiás projeta que devem morrer menos de 18 mil pessoas até setembro.

Da mesma maneira, temos um cenário ideal, no qual todas as pessoas obedecem o isolamento e morrem 4 mil até setembro. Esse não deu muita notícia. Mas a manchete seria: UFG projeta que devem morrer mais de 4 mil pessoas. Entre 4 mil e 18 mil, quem decidirá o que irá ocorrer é a sociedade. Não é o modelo.

A maior preocupação veio porque as projeções de cenário mais crítico se tornaram realidade.
Verdade. Até agora. Eu realmente nunca acreditei que o cenário vermelho, o pior dos três cenários, seja plausível. Plausível no sentido de que existe maior chance de ocorrer daquela maneira. Apesar disso, o pior cenário tem ocorrido até agora. A sociedade não aceitaria aquele número de 18 mil mortos. Principalmente com o colapso hospitalar.

O sensacionalismo e o alarmismo não vêm da nossa parte. Viria da nossa parte se tivéssemos proposto uma previsão do número de óbitos com o pior cenário. Isso nós não fazemos. Dessa maneira, nós apresentamos uma faixa, um intervalo da possibilidade de crescimento de casos, para que a sociedade esteja ciente tome a decisão de qual é o número de mortes aceitável em Goiás, que deve estar entre 18 mil e 4 mil.

O grupo de pesquisadores se viu em uma situação de ter de rebater informações dadas por presidentes de entidades sindicais. Como é lidar com o resultado das projeções elaboradas a partir do modelo criado, a frustração da sociedade, que gostaria de sair de casa para correr no parque ou passear no shopping e o empresário que quer abrir sua loja e joga a culpa no governante e no pesquisador?
É um conflito muito grande de perspectivas e expectativas. Nos países que conseguiram lidar melhor com a pandemia, principalmente os países europeus, existe um alto grau de confiança nos governantes e nos cientistas. Quando um cientista de uma agência governamental diz alguma coisa, as pessoas prestam atenção porque confiam. Ainda que exista incerteza, sabe-se que aquele cientista ou grupo de pessoas tenta proteger a sociedade.

No Brasil, existe uma desconfiança endêmica, sistêmica, nas autoridades. Isso é cultural. É causada por uma onda contínua de escândalos de corrupção, de desmandos e de judicialização das tomadas de decisão. Na nossa sociedade, quando um governante toma uma decisão ou é aconselhado por alguma entidade científica, as pessoas, quase que automaticamente, desconfiam daquela ação de maneira cega.

Você não precisa de argumentos. Como você já não tinha razão para confiar, aquilo segue o padrão. Nas sociedades mais organizadas nos países europeus, as pessoas confiam na tomada de decisão e reagem de maneira unificada e organizada. Aqui, quando um governante toma uma decisão, tudo é muito polarizado, tudo é muito politico. As pessoas têm razão para propor teorias conspiratórias, duvidar, achar que existem interesses escusos.

Isso resvala no comportamento das pessoas em relação aos cientistas. Se um governante toma uma decisão com base em um modelo ou informação científico, aquele dado deve ser igualmente suspeito. As pessoas não duvidam da previsão do tempo da mesma maneira que duvidam da projeção da Covid-19. Porque aquilo tem um contexto político, irá afetar as pessoas.

Na terça-feira, ao anunciar que o teste deu positivo para Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convocou a imprensa e tirou a máscara ao dar a notícia de que está com sintomas leves da doença e depois falou, mesmo que com máscara, muito perto dos repórteres. Que tipo de interferência comportamentos assim têm na atitude da população?
Esse mau exemplo é bem representativo daquilo que acabei de dizer sobre as teorias conspiratórias e a politização de um fenômeno natural. O presidente talvez seja uma das maiores fontes do ruído de politização de absolutamente tudo. Da politização, inclusive, de um vírus. Como se um vírus tivesse interesses.

A posição do Bolsonaro de negação do sistema, das instituições e da ciência é muito antiga. O presidente foi um dos deputados que votou a favor da pílula do câncer [projeto de lei que liberava o uso da fosfoetanolamina no Brasil tinha como autor Jair Bolsonaro]. O presidente tem esse comportamento histórico, que é causado por um defeito, uma falha, na formação educacional e cientifica de Bolsonaro.

O presidente não faz a menor ideia de como funciona a ciência. Bolsonaro propaga as fake news a respeito de cloroquina e todos os outros tratamentos não reconhecidos cientificamente com o argumento de que se não fizer bem, pelo menos mal não faz.

Mas o que Bolsonaro não entende é que temos 200 anos de história no desenvolvimento da medicina, quando a medicina se tornou mais científica, que mostra que, de fato, se uma coisa não tem efeito e é tratada como se tivesse, aquilo faz um mal para o coletivo. Porque as pessoas irão tomar aquilo e acharão que estão protegidas, quando, na verdade, não estão. Em uma pandemia, essa era a última sugestão que queríamos, que as pessoas acreditassem em um medicamento que não tem eficácia.

Outra coisa que Bolsonaro não entende é a diferença entre um medicamento que não tem confirmação da sua eficácia e um que tem a confirmação da não eficácia. A cloroquina está na segunda categoria. Existe confirmação da não eficácia. Não é que não existe a confirmação da eficácia e pode ser que funcione. Não. Já foi confirmado que não funciona. Toda esta rede de espalhamento de notícias falsas e as pessoas suspeitarem de absolutamente tudo que as autoridades falam e determinam gera esse ruído e essa ação destoante na sociedade.

Qual é a principal vítima disso? Vários estudos mostram qual é a principal vítima. No nosso País, extremamente estratificado em classes sociais e raciais, a Covid-19 afeta muito mais os menos confortáveis economicamente e socialmente. Esses não estão exatamente no foco do radar de Brasília. Não estão preocupados com as classes C e D, que são mais vítimas. Os empresários também não estão preocupados com as classes C e D. Os empresários não estão preocupados com o ônibus lotado.

Se você fizer um mapeamento do efeito da Covid-19 no País, há um grande ente de Norte para Sul, onde o Norte foi mais afetado e locais com menos IDH são mais afetados. Se você olhar a estratificação por raça, verá a mesma coisa. Pretos e pardos são mais afetados por Covid-19. Ficamos aqui nesta discussão intelectual que, por sinal, eu adoro, mas a principal vítima deste tipo de ruído no comportamento da população são as tradicionais classes menos privilegiadas do Brasil.

A Covid-19 vem para escancarar as discrepâncias sociais que temos. A classe A quer a abertura imediata de tudo porque tem hospital privado e UTI aérea. É muito fácil querer proteger a economia quando você não pensa em quem são as reais vítimas.

“É uma incompreensão de como funciona a ciência misturada com uma tentativa de desqualificação baseada em argumento de autoridade”

O sr. falou sobre a questão socioeconômica do avanço do novo coronavírus e os maiores impactos sobre a população mais pobre do País. Há estudos em andamento sobre o funcionamento do transporte coletivo na Região Metropolitana e como esse meio de locomoção pode facilitar ou dificultar o avanço da Covid-19 na capital?
Não temos um estudo baseado em evidência para Goiás ou na capital. O que posso dizer é que no final de março e início de abril, a partir do primeiro decreto, quando pararam inclusive os ônibus da capital, foi o único momento em que chegamos a 50% a 55% de isolamento, como a velocidade de transmissão da Covid-19 – o R que se fala muito – ficou próximo de 1.

A minha principal suspeita – isso é uma conjectura científica, uma hipótese, nunca testei nem tenho dado a apresentar – é que os ônibus e a lotação têm funcionado como o principal vetor da Covid-19 nas grandes cidades. Outra evidência que suporta essa hipótese, mas que não é robusta porque não envolve uma análise, é que Florianópolis (SC), enquanto pararam os ônibus, não tinha praticamente caso algum. Chegaram a passar semanas sem casos e óbitos. Por conta das pressões econômicas, Florianópolis retomou o funcionamento dos ônibus e o número de casos disparou.

Quando pensamos em aglomeração, falamos do shopping, nas lojas, nos escritórios. Nada disso se compara ao número de pessoas por metro quadrado que existe dentro de um ônibus às 18 horas. Se tiver uma pessoa que transmita o vírus naquele veículo, suspeito que seja quase que inevitável que outras pessoas sejam infectadas. Ainda que se use máscara. Costumo falar, em tom irônico, que para pegar um ônibus em Goiânia de maneira segura é preciso de um traje espacial, senão máscara e álcool gel não adiantam absolutamente nada.

A primeira reabertura das atividades não essenciais veio no dia 20 de abril em Goiás. A população compreende que se não fosse aquela restrição mais dura no início da pandemia, talvez tivéssemos chegado a quase mil mortes em Goiás muito antes? Por que as pessoas têm dificuldade de perceber que o motivo do recuou foi retardar o avanço do novo coronavírus no Estado?
Com um fechamento mais agressivo no início, quando não existia uma ameaça real que fosse perceptível pelas pessoas, não existiam óbitos por Covid-19 se acumulando como vemos hoje, não existiam hospitais e cemitérios lotados, as pessoas primeiro reagiram com muito medo, mas depois de uma ou duas semanas começaram a perceber que não tinha nada ocorrendo.

Aquela sensação de autoproteção, aquele instinto de sobrevivência, de medo se dissipou. Porque de fato muita coisa não tinha ocorrido. Na Europa, fecharam muito mais tarde e fecharam de maneira muito agressiva porque tinha cortejo de caminhão para levar milhares de caixões com cadáveres para o enterro. E faziam questão de mostrar a realidade.

Quando se tem uma reação antecipada, acaba-se por investir muito para que as pessoas tenham a percepção de medo. Isso custa para a sociedade emprego, renda, custa emocionalmente. Custa ciência, as atividades de lazer que as pessoas gostam de fazer e não podem, num momento em que não existe uma percepção de perigo de maneira tão evidente. Não está diante dos olhos.

Aquele fechamento inicial teve um impacto muito grande. Claro que teve. É só olhar para São Paulo e ver a nossa diferença hoje. Mas não sei dizer como teria sido, no que diz respeito ao comportamento da população, se aquele fechamento tão agressivo tivesse vindo mais tarde. Não tenho experiência nessa área de saúde para conseguir para especular a respeito. Mas suspeito que se o fechamento tivesse vindo mais tarde – não teria sido agora -, em algum momento de maio, já com hospitais abarrotados, com óbitos na casa de dois ou três dígitos, talvez já com uma percepção de medo maior, as pessoas resolveriam se manter fechadas ou isoladas por mais tempo.

Porém, a efetividade disso talvez fosse a mesma. Ficar dez dias fechado no início da pandemia ou ficar dez dias fechado no meio da pandemia não sei se causa tanta diferença. De fato, estamos jogando o pico para frente. Cada fechamento joga o pico para frente. Quanto mais fizermos isso melhor, porque menor é o número de óbitos e menor a lotação nos hospitais. Hoje as pessoas perderam aquela percepção de perigo. Não existe mais. As pessoas estão aclimatadas com a pandemia.

Uma das críticas que sempre surgem a cada atualização das projeções é justamente quando o pico do novo coronavírus vai chegar no Estado. As pessoas questionam que “a cada nova projeção o pico é jogado para frente”. “Por que os pesquisadores mudam o pico da Covid-19 em Goiás?” Por que é difícil explicar que o pico sofre alteração?
É um paradoxo da projeção. Quando se faz uma projeção, as pessoas internalizam aquela informação e respondem aos dados apresentados, as pessoas fazem automaticamente com que aquela projeção seja invalidada. Você absorveu aquela informação, reagiu a ela e aquela projeção automaticamente se torna diferente. Quando se diz que, por exemplo, o pico seria em abril – eu nunca falei isso -, se convence o governador, que fecha o Estado e os municípios aceitam, o pico já não é mais em abril. Porque a sociedade aumentou o isolamento social.

Em relação às notas técnicas que temos publicado, desde a nota técnica 1, o pico havia sido previsto para final de julho e início de agosto. Porém, por que o pico agora está um pouco mais para frente? Quando as notas técnicas anteriores foram publicadas, havia nenhum ou apenas um inquérito sorológico em Goiás. Agora temos dois. O primeiro, feito no final de maio, dizia que menos de 1% da população tinha tido contato com o vírus.

O segundo inquérito sorológico, em meados de junho, dizia que 2% da população tinha tido contato com o vírus. Naquela data, 98% das pessoas estavam suscetíveis. O pico depende do número de suscetíveis. O pico vai baixar porque a sociedade aumentou o isolamento e está protegida em casa ou vai baixar porque os suscetíveis já tiveram a doença e agora estão imunes, o que faz com que a doença não tenha mais como progredir.

Novamente volto para a questão da incerteza. O inquérito sorológico que fala qual é a prevalência da doença na população é uma incerteza científica. Podemos resolver com informação adicional, com evidência, com pesquisa. Essa incerteza temos como resolver. E, de fato, mudou muito. Incorporamos os dois pontos de prevalência que temos para Goiânia no modelo.

Como a população reage ao avanço da pandemia e como a população reage em termos de isolamento à falta de leitos não está no modelo. Não tenho como colocar isso no modelo. É uma coisa a acontecer. Por isso, ao invés de ter uma previsão, temos vários projeções. Temos vários cenários. Provavelmente nenhum vai ser concretizado literalmente. O cenário precisa ser analisado com o cuidado relativo em relação ao isolamento, que de fato ocorreu, ou o cenário mais próximo daquele isolamento que foi registrado.

Com todos os dados que foram analisados para construir as projeções desde a confirmação dos primeiros casos em Goiás no dia 12 de março, com o vai e volta da restrição ou flexibilização das atividades, o sr. se considera mais otimista ou pessimista com relação ao futuro do avanço da pandemia da Covid-19 em Goiás?
Como personalidade da minha própria natureza, sou um otimista inveterado. Tendo sempre para o lado mais otimista. Nunca acreditei que, de maneira permanente, fossemos sempre seguir a trilha do pior cenário. Apesar de que o pior cenário nas notas técnicas anteriores era sempre o mais próximo da curva de óbitos. A sociedade goiana, no momento em que tiver o número de óbitos na casa de três dígitos com hospital faltando, vai reagir.

A sociedade pode reagir através das instituições e das autoridades constituídas: Ministério Público, Executivo, Legislativo e Judiciário. Será tomada algum tipo de medida. Mas a população também vai começar a perceber. Seja porque todo mundo agora já conhece alguém que foi contaminado. Pelo menos as pessoas com quem eu convivo já conhecem uma pessoa próxima que você sabe o nome ou o endereço que já teve Covid-19 ou eventualmente conhecem alguém próximo que já morreu.

Na medida em que isso ocorre, a consciência do instinto de preservação ou a consciência do perigo começa a aumentar e a população reage. Você pensa: “A tia do fulano morreu e o hospital está lotado. Hoje eu vou ou não ao parque?”. É o tipo de raciocínio que acaba por afetar o comportamento das pessoas. A combinação de decisões por parte das autoridades constituídas e do comportamento individual das pessoas com a chegada da informação faz com que a sociedade reaja.

Existem os negacionistas e não tem como lidar com eles a não ser com camisa de força e manicômio. Esses não têm muita esperança com relação a isso. Tem pessoas que vão tomar cloroquina, vão vestir uma capa vermelha e acham que são Super-Homem. Com relação a essa pessoas, não tenho muita esperança. Para eles, negar a realidade faz parte de uma questão ideológica, faz parte da constituição de que quem são política e ideologicamente.

“A Covid-19 vem para escancarar as discrepâncias sociais que temos. A classe A quer a abertura imediata de tudo porque tem hospital privado e UTI aérea”

Curioso é que no final da década de 1910 no Brasil, os negacionistas da gripe espanhola usavam os mesmos argumentos, de que era apenas uma gripe influenza e que não causaria a morte de muitas pessoas.
Os argumentos eram muito parecidos. Isso não conseguiremos resolver nesta geração. Conseguimos resolver com melhor educação científica. Educação científica não é formar cientistas. É explicar para criança na escola como funciona a ciência. A coleta da evidência, o testo, o experimento, a dúvida, nutrir a dúvida, saber que o cientista vai mudar de posição quando novas informações chegarem.

Fazemos isso com educação. E sabemos que falta muito no Brasil. Isso não se combate para esta geração. A geração que acredita em fake news, que não liga para as fake news ou acredita em conspiração já faz parte da personalidade da pessoa.

O sr. é goiano?
Sou goiano. Goianiense do Parque das Laranjeiras.

O sr. tem quantos anos?
Tenho 38.

Sua entrada para a universidade não se deu pelas Ciências Biológicas. O sr. começou a fazer Direito na PUC-GO. O que o levou a mudar de área?
Na verdade, comecei os dois cursos juntos. Comecei Ciências Biológicas e Direito simultaneamente. Fazia Ciências Biológicas integral (UFG) e Direito à noite na PUC-GO. O motivo pelo qual fazia Direito é porque toda minha família é da área jurídica. Não tinha muita certeza se iria gostar da profissão de Ciências Biológicas. Só gostava de estudar biologia e gostava dos professores.

Comecei os dois cursos juntos e fui, se não me engano, até o sétimo período de Direito. Consegui levar as duas faculdades relativamente bem. Quando entrei no mestrado… Ainda antes, na iniciação científica, me encontrei profissionalmente. Sabia que queria ser cientista. O que realmente me apaixonei nas Ciências Biológicas não foi o estudo do beija-flor (risos), não foi o estudo da plantinha.

Na verdade, o que me apaixonei em Ciências Biológicas foi a pesquisa, a pesquisa de qualquer coisa. A questão de responder perguntas e lidar com o desafios intelectuais. Na hora que me decidi profissionalmente, larguei o curso de Direito e fui fazer mestrado. Depois do mestrado fui fazer doutorado. Escolhi a minha carreira de pesquisador.

É claro que hoje tenho metade do meu coração está na docência. Adoro ser professor. Inclusive, as minhas aulas de estatística e metodologia computacional estão disponíveis on-line. Meus cursos são abertos. Se você entrar em http://estat.bio.br/, tem todas as minhas aulas de estatística que dou na graduação e na pós-graduação. Metade da minha paixão profissional é ser professor, mas o que me despertou para as Ciências Biológicas foi a pesquisa.

O sr. trabalha no modelo criado para as projeções da Covid-19 em Goiás com o professor José Alexandre, que foi o seu orientador na graduação e no mestrado. Como se deu a aproximação profissional entre o sr. e o professor José Alexandre?
José Alexandre hoje é meu amigo, meu colega de trabalho, mas de fato começou como a minha referência científica. Me formei cientista aos pés do José Alexandre. Em ciência tem muito essa relação de mestre e aprendiz. Ciência é uma arte na forma de pensar, na forma de conversar, na forma de atuar. O professor José Alexandre foi o meu mestre.

Fiz doutorado fora do Brasil, nos Estados Unidos, também na área de modelagem. Quando saí para fazer o doutorado, eu já era cientista, tinha várias publicações. O professor José Alexandre é uma referência do que é ser um cientista. E despertou em mim todas essas questões, desde filosóficas, sobre o que significa fazer ciência, até metodológicas: estatística, modelagem, não ter um foco em um organismo.

Nem eu ou José Alexandre somos especialistas em um organismo ou grupo de organismos. José Alexandre fez doutorado com abelha, mas nunca trabalhou com abelha sendo um especialista em inseto ou algo parecido. Abelha para o professor José Alexandre era o organismo modelo. Da mesma forma que hoje faz pesquisa com hominídeo, com crânio dos nossos antepassados.

Foi o professor José Alexandre que despertou em mim essa curiosidade científica. Foi por causa do José Alexandre que larguei o Direito para trabalhar com pesquisa científica e também o interesse por métodos computacionais, métodos numéricos, estatística, estatística computacional, simulação. Tudo isso, aprendi com o professor José Alexandre. E fui formando o meu nicho, me diferenciando. Trabalho muito mais com simulação do que o professor José Alexandre, que trabalha muito mais com estatística clássica do que eu.

O motivo pelo qual fui parar no laboratório do José Alexandre foi uma coincidência. Sabia que queria trabalhar com ecologia e evolução. Cheguei para o coordenador do curso e perguntei quem era o melhor professor para orientar nessa área. Quando ouvi o nome José Alexandre, passei seis meses procurando. Até o dia que o encontrei.

É difícil para quem não é do meio universitário e da pesquisa científica compreender o que significa ter um professor nota 7 na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] em atuação na UFG.
É. Na verdade, o professor José Alexandre estoura absolutamente qualquer titulação, referência ou premiação científica que existe no País. É o único membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em Goiás, tem medalhas e reconhecimentos nacionais e internacionais. É um pesquisador nível 1A, é um dos poucos que existem no Estado. José Alexandre é membro titular de sociedades internacionais na área de pesquisa em Ciências Biológicas.

Além disso, é um ser humano incrível, de um coração enorme. É referência para mim, não só como cientista, mas também como pessoa. Poder trabalhar e aprender com José Alexandre, poder ter a atenção e observar a forma de trabalho e pensamento, é o que me fez ser o cientista que sou hoje.

Quando o sr. foi fazer o doutorado nos Estados Unidos, passou por outros países, como Inglaterra, Austrália, China, Dinamarca. O que o levou para os outros países durante o doutorado?
Quando saí do Brasil, mesmo tendo acabado de terminar o mestrado, já tinha uma quantidade de publicações científicas que muitos professores com carreira estabelecida não tinham. Considero que saí do Brasil cientista. Mas, trabalhando em Goiás em 2006, me colocava um tanto longe da comunidade científica. Não participava de congresso. Só conhecia os principais cientistas da minha área pela literatura ou por e-mail.

Quando saí do Brasil para o doutorado, saí com uma missão na cabeça: apertar o maior número de mãos possíveis. Era me apresentar, mostrar a cara, conhecer as pessoas. Formar uma rede de pesquisas e sair da sombra do José Alexandre. Porque quando alguém se forma aos pés de um mestre daquele porte, necessariamente você fica associado à figura daquele professor.

É muito difícil desassociar a carreira de uma pessoa que tem uma projeção tão grande. Isso não é culpa do professor José Alexandre. Na verdade, é privilégio meu. Mas precisava me diferenciar de alguma maneira. Fui formar minha rede de contatos, apresentar o que sabia e trabalhar com um monte de pessoas.

A ciência internacional passa pelos Estados Unidos. Fui trabalhar em uma universidade que tinha um departamento de ecologia e evolução muito forte [Universidade de Connecticut]. Lá eu conheci o mundo inteiro. Isso me proporcionou oportunidades de viajar internacionalmente e conhecer praticamente todos os melhores departamentos da minha área.

Isso me leva a ter, até hoje, uma rede de contatos internacional muito grande. Você mencionou os ataques. Isso caiu na internet. Recebi tanto suporte de cientistas internacionais quanto nacionais.

Inclusive um colaborador e colega com quem trabalho há muitos anos, Russell Gray, que é diretor do Instituto Max Planck, na Alemanha, disse que me dava asilo científico se eu entendesse que os ataques ameaçavam a minha vida, a minha integridade ou da minha família. A oferta foi de ficar dois anos na Alemanha com salário, viagem e estadia pagos pelo Instituto Max Planck para trabalhar até o fim da pandemia.

Me sinto um privilegiado. A minha rede de contatos internacionais é muito grande. Praticamente todos os artigos que publico têm algum cientista internacional. Isso me proporciona um contato direto com a ciência em tempo real, com toda a comunidade científica o tempo todo.

Tem alguma pergunta que não fiz ao sr., algum assunto que acredita ser relevante e não foi abordado?
Agradeço a oportunidade. Parabenizo vocês profissionais da comunicação, que têm feito um trabalho belíssimo nessa pandemia. Os jornalistas são o braço direito e esquerdo do cientista. Temos muita dificuldade de falar com a população. Vocês é que traduzem isso para nós e destilam de maneira que a população possa entender.

Tenho acompanhado o Jornal Opção, sou fã número um de vocês, dos editorias e das matérias. Não tenho nada a adicionar além de uma parabenização pelo trabalho que vocês têm feito.