Notícias

Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 03/08/2021 - Notícias

Como a nanotecnologia pode combater o câncer

Docente do Instituto de Física, Andris Bakuzis explica sua pesquisa em Nanomedicina Térmica e apresenta resultados importantes para a luta contra o câncer

Como a nanotecnologia pode combater o câncer

Dado o alto número de mortes ocasionadas pelo câncer, uma das maiores causas no mundo, sua detecção precoce e o tratamento efetivo são fundamentais. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 21,4 milhões de novos casos ocasionarão 13,2 milhões de mortes no país até 2030. A nanotecnologia pode mudar esta realidade. O professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (IF-UFG), Andris Bakuzis, apresentou em entrevista ao Jornal do Professor um apanhado de sua pesquisa em Nanomedicina Térmica, área da biomedicina ligada à nanotecnologia. O estudo conta com o suporte técnico do Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução (LabMic-UFG) e é financiado com recursos do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

A equipe sob a orientação de Bakuzis sintetizou uma nanopartícula magnética multifuncional a base de óxido de ferro acrescido de zinco e manganês. Trata-se de um nanocarreador composto por materiais teranósticos, nanopartículas com baixa toxicidade, capazes de monitorar calor em tempo real e assim realizar diagnósticos ou interagir com agentes externos, como o laser, e eliminar células cancerígenas. Mais do que isso, Bakuzis explica que a nanopartícula pode, ainda, promover a ativação do sistema imune através dessas mesmas técnicas chamadas terapia fototérmica e hipertermia magnética.

De acordo com o docente, por meio do calor e do magnetismo é possível liberar fármacos na região indicada ou ativar o sistema imunológico para o tratamento de metástase. O método ainda está sendo testado em animais. “Atualmente estamos trabalhando em parceria com a professora Elisângela Lacerda, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), tratando tumores em camundongos. Mas, novos testes veterinários (tratando cães), em parceria com a Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) e o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), coordenados pela professora Marina Pacheco, estão sob investigação e podem garantir a segurança da aplicação para futuros testes em humanos”, pontua.

Segundo o pesquisador, a nanotecnologia está no mercado desde 1995, sendo os primeiros “nanoprodutos” reconhecidos: o Doxil e o Abraxane, nanopartículas contendo quimioterápicos que foram amplamente aplicadas. Dada a enorme expectativa da novidade, naquele momento esperava-se que eles pudessem mesmo curar o câncer. Entretanto, ambos resultaram em pouca eficiência na garantia de sobrevida, mas apesar disso melhoraram a qualidade de vida dos pacientes, diminuindo os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais como a quimioterapia. “A nanotecnologia já é uma realidade. Eu acho que o futuro será fantástico para a nanomedicina e vocês verão cada vez mais a aplicação dela em um futuro próximo”, comemora Bakuzis.

O docente lembra que em 2011, nanopartículas magnéticas usadas em hipertermia magnética aumentaram  o tempo de vida de pacientes com tumor cerebral, Glioblastoma [AB1] , o que levou a Europa a aprovar o tratamento combinado com radioterapia, incrementando a consolidação da tecnologia. Já em 2018, outro tipo de nanopartícula foi usada para tratar pacientes com sarcoma (câncer nos tecidos conjuntivos), o que aumentou a eficácia da radioterapia e incentivou os estudos em rádio-sensitização para aplicação a pacientes com outros tipos de tumor. “Hoje, são realizadas experimentalmente terapias com nanopartículas sobre as quais se aplica laser como agente externo de ativação também para tratamento de câncer de próstata. Outros usos já são amplamente consolidados como nanotecnologias para diagnóstico: agente de contraste, detecção de metástase em nódulos linfáticos”, explica.

Para Bakuzis, as expectativas da nanomedicina térmica estão associadas ao controle e monitoramento da entrega de calor visando melhorar a eficiência dos tratamentos. “Os testes em camundongos mostraram que é possível localizar a ação das nanopartículas no tumor primário para ativar o sistema imune a regredir tumores secundários espalhados, metástases, pelo corpo de camundongos. Mas, também queremos que a nanotecnologia evolua no sentido de prevenção através de diagnósticos precoces e no tratamento de doenças não tratáveis com métodos convencionais. Como é uma tecnologia nova, ela precisa atacar aqueles problemas em que se tem pouca resposta com tecnologias usuais”, pontua.

Investimento

Dada a necessidade de buscar recursos constantemente para realização de todas as fases de pesquisa, a continuidade deste tipo de pesquisa no país está ameaçada. “Estão minguando nos últimos anos as bolsas e o investimento em infraestrutura”, alerta Bakuzis. “Os esforços e recursos investidos em pesquisa de ponta devem ser continuados a longo prazo, permitindo que a ciência atenda ao interesse público de forma ativa, intervindo para salvar vidas e promover o bem-estar dos pacientes”, concluiu. 


[AB1]Glioblastoma é um tipo muito conhecido de tumor cerebral, sendo um dos mais agressivos.