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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 22/05/2025 - Notícias

Dia da Biodiversidade: conheça quatro iniciativas de preservação das universidades federais de Goiás

Dia da Biodiversidade: conheça quatro iniciativas de preservação das universidades federais de Goiás

Cuidar do meio ambiente. Proteger espécies nativas. Incentivar a sustentabilidade. Evitar desperdício e poluição. 

Discussões como essa são de extrema importância nos dias de hoje e representam um recado às atuais e futuras gerações: cuidem do planeta! Em um cenário cujos interesses políticos e econômicos costumam se sobressair, é mais do que necessário evidenciar a obrigação que todos nós temos em preservar a vida, em suas mais diversas formas e configurações. 

Foi assim que o Dia da Biodiversidade nasceu, durante a Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, popularmente conhecida como ECO-92. O evento, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992, foi um dos mais marcantes na área ambiental por reunir autoridades de mais de 170 países e propor soluções para a crise climática, incluindo a proteção da biodiversidade.

De lá para cá, outros eventos climáticos mundiais também ganharam forma e estabeleceram compromissos necessários a serem cumpridos pelos países, em prol da redução na emissão de combustíveis fósseis, desmatamento, entre outros objetivos. 

Por outro lado, o investimento em pesquisas científicas na área também se propôs a contribuir com o fomento à biodiversidade. Em 2023, por exemplo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) investiu mais de 95 milhões de reais no ecossistema de ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo. 

Pensando nisso, em alusão ao Dia da Biodiversidade, trouxemos quatro propostas de pesquisa e extensão em Goiás que dialogam com o tema, apresentando perspectivas, propostas e soluções. 

A implementação de ações de conservação a partir do estudo dos anfíbios

Rogério Pereira Bastos é docente do Instituto de Ciências Biológicas (ICB, pesquisador e coordenador do Programa de Pós Graduação (PPG) em Biodiversidade Animal da UFG. 

Desde 1995, o profissional estuda aspectos ecológicos, acústicos e reprodutivos de anfíbios anuros do Cerrado, tendo como campo de pesquisa a Floresta Nacional de Silvânia (Flona),  unidade de conservação do ICMBio. Inserida no bioma Cerrado, a Flona visa promover o manejo adequado dos recursos naturais, garantir a proteção dos recursos hídricos e das belezas cênicas, fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica básica e aplicada, da educação ambiental e das atividades de recreação, o lazer e turismo.

Como um dos resultados alcançados, o professor constatou que certas espécies desapareceram da floresta desde 2014, enquanto outras, que não eram comuns, passaram a ser registradas. 

“Entender o(s) motivo(s) dessa modificação é essencial para a proposição de ações conservacionistas”. 

Outro resultado identificado relaciona-se às vocalizações (coaxos) dessas espécies, obtidas por meio de monitoramento acústico remoto. O grupo de pesquisa identificou alterações na frequência dominante, isto é, no tom da voz, após análise realizada durante um período de quatro meses.

“Os coaxos estão, em média, mais agudos e essa alteração pode ter impactos no comportamento das espécies, uma vez que os indivíduos se reconhecem pelos coaxos. 

Além da pesquisa em si, o programa de pesquisa também produz materiais de divulgação científica que são distribuídos para as escolas de educação básica do município de Silvânia. Outra abordagem junto à comunidade é a realização de cursos para os docentes. 

Como parte da metodologia, serão distribuídos dois ebooks para os docentes e dois folders para os estudantes, como forma de enriquecer o aprendizado do público. 

Os ebooks “Descobrindo o desconhecido” e “O coaxo dos sapos”, assim como outros materiais de divulgação científica, podem ser acessados, na versão PDF, no site.

Virada Ambiental: um projeto bem-sucedido que nasceu na UFG

Promover a sensibilização e capacitação da sociedade para a conservação dos recursos naturais. Essa é a premissa do Virada Ambiental, projeto que surgiu em 2019 como uma ação do Programa UFG Sustentável.

O objetivo inicial do professor Emiliano de Godoi, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA/UFG), era compensar o carbono emitido pelas atividades da UFG. A necessidade partiu de um trabalho de conclusão de curso que identificou a necessidade do plantio de 732 árvores para compensar as emissões referentes ao ano de 2018. Por sugestão do professor Heleno Dias Ferreira, do ICB/UFG, esse número foi arredondado para 1.000 mudas. 

A partir de então, com o apoio do professor Jonathas Silva (FD/UFG), surgiu a ideia de convidar prefeituras a participarem da iniciativa. Surgiu assim a colaboração com diversas instituições públicas, como a Associação Goiana dos Municípios (AGM), a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Emater e Saneago. 

Com todo o apoio obtido, o projeto, já em seu primeiro ano, alcançou 140 municípios goianos, promovendo o plantio de mais de 200 mil mudas em áreas indicadas pela Emater, Saneago e Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Ao longo desse período já foi feito o plantio de mais de 4 milhões de árvores, em 17 estados do país e no Distrito Federal, além da promoção de cursos de capacitação de servidores públicos municipais e eventos culturais e esportivos.

O professor Emiliano de Godoi esclarece que o projeto conseguiu alcançar os princípios da extensão universitária - como interdisciplinaridade e a associação entre ensino, pesquisa e extensão - impactando diretamente na formação de estudantes e na transformação social. 

Ele ainda enfatiza que o protagonismo da comunidade não acadêmica é fundamental para a eficácia da ação, enaltecendo a ideia de que a universidade traz saberes práticos, tradições, demandas e experiências que enriquecem o conhecimento.

“No caso específico da Virada Ambiental, o projeto jamais teria alcançado essa dimensão sem a efetiva participação e o engajamento das instituições parceiras e das diversas pessoas que, individualmente, colaboram com essa iniciativa”.

Preservando os animais do Cerrado: conheça o projeto Raposinha do Pontal da UFCat

O Raposinha do Pontal é um projeto da Universidade Federal de Catalão (UFCat), com parceria do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC) e conta com o apoio do proprietário Juscelino Martins, que cede sua fazenda como área de estudo. A pesquisa é uma iniciativa de conservação da raposa-do-campo, uma das espécies de canídeo menos estudadas do mundo e natural do Cerrado, com risco de extinção. 

Segundo o biólogo Frederico Lemos e um dos coordenadores do projeto, é primordial entender melhor o comportamento da espécie, suas demandas e, principalmente, sua relação com os humanos. “Entender a resposta desses animais em uma área antropizada, isto é, impactada pelo homem, é primordial para saber até que ponto esses bichos conseguem lidar com as alterações ambientais, de uma espécie que hoje é quase ameaçada de extinção”.

Ele conta que o surgimento surgiu da necessidade de dar continuidade a uma pesquisa anterior que já havia detectado em outras espécies, como lobos guará e cachorros do mato, o risco da intervenção humana nos hábitos animais. Ao levantar a hipótese de desenvolver o estudo em outras áreas, surgiu o apoio do empresário mineiro Juscelino Martins que, entusiasta da conservação ambiental, manifestou o interesse em apoiar a iniciativa. 

Sobre os desafios, Frederico destaca o longo período de tempo que o estudo em campo exige, o que demanda um árduo trabalho, além da falta de apoio à pesquisa e conservação de projetos a longo prazo, retendo o interesse de pesquisadores. Contudo, o maior empecilho é a destruição do meio ambiente, que ocorre a uma velocidade assustadora e modifica constantemente os hábitos das espécies. 

“As paisagens são transformadas numa velocidade muito intensa e isso faz com que os animais tenham que se deslocar o tempo todo, percam a área de vida, percam o recurso, de modo que suas populações respondam cada vez pior ao grau de antropização sobre as diferentes paisagens. Junto a isso, temos a soma de ameaças crescentes com a ampliação de rodovias, com o número de pessoas nas áreas de conservação e o número de animais domésticos que acabam infligindo uma alta taxa de mortalidade à raposa do campo e a outros mamíferos do Cerrado”.

Frederico ressalta a importância da produção de informações sobre a base biológica das espécies na conservação da biodiversidade. Segundo o biólogo, não existe biodiversidade sem espécies e a discussão sobre o tema perpassa pelo entendimento sobre as necessidades de sobrevivência dos bichos. 

“Quando pensamos em conservação de espécies animais, vegetais, não tem como discutirmos a conservação desses organismos sem entender as suas necessidades, a sua história de vida, a sua história natural.. E hoje a gente sabe muito pouco disso, sendo esse um fator chave para que consigamos entender como cada espécie irá responder a essas mudanças”. 

Por fim, Frederico reconhece, ao longo de quase 23 anos de estudo na área, que um maior acesso à informação transformou positivamente o entendimento da sociedade de que meio ambiente e biodiversidade são fatores chave para a sobrevivência do planeta. 

Biodiversidade na academia: o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFJ

Graças à política de interiorização do ensino superior, cidades localizadas fora da região central e metropolitana do estado de Goiás também têm atuado no protagonismo dos estudos sobre biodiversidade. 

Na Universidade Federal de Jataí (UFJ), o Programa de Pós-Graduação em Geografia atua há 16 anos no desenvolvimento e potencialização das habilidades dos profissionais graduados em Geografia e áreas afins como Biologia e Agronomia. A formação busca apoiar o desenvolvimento de projetos de pesquisa, participação em eventos acadêmicos e científicos, além de ações de extensão.

Tendo como área de concentração a “Organização do Espaço nos domínios do Cerrado Brasileiro”, a grande maioria das pesquisas desenvolvidas têm como foco o entendimento da relação dos povos do Cerrado com os recursos nele existentes. Segundo o coordenador do programa, William Ferreira, as linhas de estudo partem da ideia de conciliação entre o bem-estar da sociedade e a conservação dos elementos naturais. 

“Acreditamos que a biodiversidade do Cerrado é condição fundamental para que se construa uma relação menos danosa entre sociedade e natureza. Dentre as espécies animais e vegetais que podem ser extintas pelo avanço da ação da sociedade, podem estar elementos com potencial para resolver vários problemas como a melhor oferta de nutrientes ou a cura de doenças”.

Com mais de 50 projetos em andamento, alguns ganham destaque, como a “Conservação do solo e da água no Cerrado Brasileiro” e o projeto “Inventários, monitoramento e ecologia da biota em savanas e florestas do Cerrado em Goiás". 

Dentre os projetos de extensão, há o “Centro Integrado de Agroecologia para treinamento, experimentação, validação e disponibilização participativa de tecnologias apropriadas à agricultura familiar”. Trata-se de um projeto no qual se busca apoiar o agricultor familiar com o desenvolvimento de técnicas apropriadas e voltadas à conservação de recursos naturais, além de promover a recomposição de áreas de proteção ambiental com espécies nativas. O projeto alcança diversas comunidades de produtores familiares e promove a utilização de práticas que estejam em consonância com a conservação da biodiversidade.